Trecho de meu livro ainda inédito “O
CRIME DE OLGA”.
João se virou em direção à rua e, ao
se aproximar da esquina da outra rua, onde, enfim, desapareceria do alcance de
seus olhos, olhou para trás e a viu, atenta, os olhos fixos à espera de um
aceno de mão. Virou-se, então, e por alguns segundos estancou os passos e,
olhando a distância, acenou para ela, vendo o movimento distante de seu braço
se erguendo no ar, e a suavidade de sua mão ondulante solta no espaço. Nada
havia que fosse mais real naquele pedaço de chão, além de dois seres distantes
um do outro, como se nada houvesse além de si; como se o claro espaço da terra
fosse acrescido aos poucos, na sua efêmera e supérflua ambiguidade.
De um lado, a verde vegetação rala das
encostas, que antes ausentes, agora eram então acrescidas; e do outro, as
cercas das casas vizinhas compondo um cenário rústico, cinzento. João seguiu
seus passos até sumirem junto a sua casa. O dia ainda estava claro, mas aos
poucos tenderia ao cinzento, permeado pela mesma brisa que soprava nas tardes
de domingo. O movimento de transeuntes era mínimo, mas o movimento interno de
sua mente criando novos pensamentos era muito intenso. Ao passar por ruas
congruentes, isoladas dentro da timidez do bairro Nove de Abril, que distava
cerca de dois quilômetros e meio de sua casa, avistou um aglomerado humano, que
lhe chamou a atenção. Em pleno domingo, aquilo parecia normal no bairro
simples. Eram pessoas que formavam ordenadas, duas filas ligeiramente
paralelas, em cujo interior, protegido pelo aparato humano, um de cada lado,
uma espécie de andor, certamente de madeira, envolvido por fitas coloridas,
flores e outros enfeites bordados, em cujo...
No comments:
Post a Comment