PROCESSOS QUE
ENVOLVEM MISSÕES E EVANGELISMO – 13 B
Livros e ideias antagônicas e seu impacto sobre nossas
gerações.
”Nunca, como
nos últimos séculos, o destino das multidões e até os sentimentos íntimos e
fantasias pessoais do homem comum foram determinados tão diretamente pelas
doutrinas dos filósofos, que se disseminam rapidamente pelo “proletariado
acadêmico” das universidades, pelos mass media e pela rede mundial de
computadores, invadindo os lares e as consciências – se não os subconscientes –
e convertendo-se rapidamente em forças plasmadoras da vida das multidões. (...)
Essa história é a história da nossa vida. Se não a entendermos, não nos
entenderemos a nós mesmos.”
( Olavo de Carvalho in “Maquiavel,
ou a Confusão Demoníaca”.)
Olavo de Carvalho é basileiro, filósofo cristão, jornalista, escritor,
ensaísta, articulista político, presidente do The Inter-American Institute for
Philosophy, Government, and Social Thought, USA. É nosso contemporaneo e vive na
cidade de Richmond no Estado da Virginia USA.
“O PRINCIPE” de Nicolau Maquiavel.( 1469-1527) Ni
Maquiavel
morreu cerca de 10 anos depois que Martinho Lutero (além de John Calvin, Henry
VIII, Huldrych Zwingli e outros Reformadores Protestantes) deflagrou a Reforma
Protestante na Alemanha em 1517. As 95
Teses descritas por Lutero como tendo duas ideias centrais – 1) que a
Biblia é a autoridade central religiosa da Igreja Cristã, e 2) que os seres
humanos somente podem alcançar salvação por sua fé e não por suas obras – foram
o estopim que deflagaram o movimento conhecido desde então como a Reforma
Protestante. Alguns anos antes, porém,
NICOLAU MAQUIAVEL, escreveu (mas foi publicado somente apos sua morte) um livro
polêmico e não menos revolucionário, intitulado O PRÍNCIPE, cuja influência apesar
de negativa, sobre váriaos segmentos da sociedade moderna e pós-moderna, permanece
viva ainda hoje, sobre mentes e sitemas ideológicos, políticos e filosóficos. Um
clima de iniquidade, corrupção e conflitos, compunha o cenário da Itália na
época em que Maquiavel nasceu. Além disso a Itália vivia no maior clima de
corrupção e hipocrisia religiosa de sua história, em que “os papas nada mais
eram do que lobos políticos em pele de cordeiro”, escreveu Benjamin Wiker in
“10 Books that Screwed Up the World: and 5 others that didn’t help”.( Regnery
Publishing Inc. 2008). O livro foi praticamente escrito com a intenção de
proteger o próprio autor, e dar honras a seu soberano mestre, chamado Cesar
Borgia, que além de terrivelmente sanguinário, foi usado por Maquiavel em seu
livro, O Príncipe, como um modelo a ser imitado e seguido. Maquiavel não
culpava Borgia por suas atrocidades, (como no episódio da morte sangrenta de
Ramiro Orco, um dos subordinados de Borgia, que morreu cortado ao meio e
atirado em praça pública, para que uma das intençoes de Borgia fosse obtida.)
mas o louvava, e o usou como um dos
personagens principais de O Principe. “Cesar Bórgia era um homem sem
consciência...e não hesitava em operar crueldades enormes para assegurar e
manter seu poder.” (Benjamin Wiker, obra citada.) Foi o que ocorreu a Ramiro
Orco. Borgia o enviou a uma província chamada Romanha, onde havia muitos
“assaltos, brigas e todo o tipo de insolência”. Para aplacar esse mal, Borgia
envia Ramiro de Orco, que fez todo trabalho sujo de repressão, e matança de
líderes. Ramiro se sujou pessoalmente com isso no meio do povo. Depois disso Borgia
agiu contra Ramiro, pois “ sabia que precisava fazer o povo acreditar que “se
alguma crueldade havia sido feita, isso não vinha dele, mas da natureza
implacável de seu ministro.” “Foi então que Bórgia expos Ramiro certa manhã, na
praça de Cesena, cortado em dos pedaços. A ferocidade desse espetáculo deixou o
povo de uma só vez satisfeito e em estupor.” ( Benjamin Wiker, obra citada). Essa
reação de Bórgia na verdade atende propositadamente a um dos postulados mais
celebrados dO Principe, segundo o qual. “os meios justificam os fins”, o que
criou uma série de antecedentes ao pensamento, ao livro e à pessoa de
Maquiavel. Nesses termos, quando os meios justificam os fins, “isso designa um
tipo de politica que existe e continuará a existir independentemente de sua
influência...uma política que usa de todos os meios, justos, razoáveis ou
estúpidos, ferro ou veneno, para obter seus fins.” (“History of
Political Philosophy”, by Leo Strauss & Joseph Cropsey, pg. 297). O livro de Maquiavel criou um
precedente, ao admitir um tipo de governo e liderança voltada exclusivamente
para o lider, ou o rei, ou o presidente de determinado sistema político, em que
a característica maior é o despotismo totalitário, é a mentalidade
injustificada do governante, que o torna aos poucos um verdadeiro fascista. Sem
nos esquecer que grandes lideres políticos na historia foram adeptos de
Maquiavel, e aplicaram seus princípios despóticos pra justificar sua orientação
política totalitária e fascista. Tal como foi o caso de Mussolini, Hitler,
Lenin, Stalin, Mao Tse Thung, Marx, Gramsci e muitos outros, todos aderentes às
ideías de Maquiavel. Uns o defenderam, e
outros o atacaram veementemente. Dentre os que o atacaram – cujo numero é bem
maior do que os que o defenderam – começaremos com Francesco Vettori, seu
contemporâneo e amigo pessoal, que se recusou a ajudar Maquiavel a obter de
volta seu emprego burocrático, perdido por questões políticas. Vettori se “esquivou
delicadamente de prestar qualquer ajuda ao autor de tamanha patifaria literária”
(Olavo, in ”Maquiavel ou a confusão demoníaca”. 2011). Na verdade, já naquela
época, Maquiavel havia rompido com toda tradição político-filosófica até então
estabelecida como “politicamente normal”. Ele criou um novo padrão no arranjo e
na orientação política dada aos governantes a partir de O Principe. Para ele o
que importava era que o governante se mantivesse no poder, custe o que lhe
custasse. O cardeal ingles, Reginald
Pole, (1500-1558) um quase contemporaneo de Maquiavel, o denunciou como um “espírito
satânico, defensor do despotismo e justificador de todas as violências” ( in
Lauro Escorel. “Introdução ao Pensamento Político de Maquiavel”. RJ. 1958,p.90
Simões) E William Shakespeare o chamou em um de seus versos como “the murderous
Machiavelli” – O assassino Maquiavel. ( Olavo in “Maquiavel, ou a Confusão Demoníaca”.
) Para a Igreja Católica Romana a reação não poderia ter sido outra. No
Concílio de Trento de 1564, o livro O Príncipe foi incluído no INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM (Indice dos livros proibidos) que era a lista
de publicações consideradas heréticas, anti-clerical, lascivos ou libidinosos
até então publicados e regeitados pela Igreja Católica Romana. Mas o INDEX incluia uma série de autores, filósofos
e até teólogos cristãos regeitados como imorais e heréticos dentre eles,
Francis Bacon, Copernicus, Galileo, Descartes, John Calvin, Voltaire, Sartre, Kant e muitos outros, até que a
própria igreja banil o INDEX em 1966 através de edito do papa Paulo VI.
Mas, a dinâmica da ideologia política dO Príncipe aos
poucos vai mudando de tom, dentro desse período histórico de 500 anos em que
exerceu sua influência. E isso inclue uma interpretação voltada a atingir até
mesmo a Ética Cristã no Mundo Ocidental. É o que veremos a seguir.
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