Monday, January 11, 2016

PROCESSOS QUE ENVOLVEM MISSÕES E EVANGELISMO – 13 B
Livros e ideias antagônicas e seu impacto sobre nossas gerações.

”Nunca, como nos últimos séculos, o destino das multidões e até os sentimentos íntimos e fantasias pessoais do homem comum foram determinados tão diretamente pelas doutrinas dos filósofos, que se disseminam rapidamente pelo “proletariado acadêmico” das universidades, pelos mass media e pela rede mundial de computadores, invadindo os lares e as consciências – se não os subconscientes – e convertendo-se rapidamente em forças plasmadoras da vida das multidões. (...) Essa história é a história da nossa vida. Se não a entendermos, não nos entenderemos a nós mesmos.”
( Olavo de Carvalho in “Maquiavel, ou a Confusão Demoníaca”.)
Olavo de Carvalho é basileiro, filósofo cristão, jornalista, escritor, ensaísta, articulista político, presidente do The Inter-American Institute for Philosophy, Government, and Social Thought, USA. É nosso contemporaneo e vive na cidade de Richmond no Estado da Virginia USA.

“O PRINCIPE” de Nicolau Maquiavel.( 1469-1527)        Ni
                Maquiavel morreu cerca de 10 anos depois que Martinho Lutero (além de John Calvin, Henry VIII, Huldrych Zwingli e outros Reformadores Protestantes) deflagrou a Reforma Protestante na Alemanha em 1517. As 95 Teses descritas por Lutero como tendo duas ideias centrais – 1) que a Biblia é a autoridade central religiosa da Igreja Cristã, e 2) que os seres humanos somente podem alcançar salvação por sua fé e não por suas obras – foram o estopim que deflagaram o movimento conhecido desde então como a Reforma Protestante.  Alguns anos antes, porém, NICOLAU MAQUIAVEL, escreveu (mas foi publicado somente apos sua morte) um livro polêmico e não menos revolucionário, intitulado O PRÍNCIPE, cuja influência apesar de negativa, sobre váriaos segmentos da sociedade moderna e pós-moderna, permanece viva ainda hoje, sobre mentes e sitemas ideológicos, políticos e filosóficos. Um clima de iniquidade, corrupção e conflitos, compunha o cenário da Itália na época em que Maquiavel nasceu. Além disso a Itália vivia no maior clima de corrupção e hipocrisia religiosa de sua história, em que “os papas nada mais eram do que lobos políticos em pele de cordeiro”, escreveu Benjamin Wiker in “10 Books that Screwed Up the World: and 5 others that didn’t help”.( Regnery Publishing Inc. 2008). O livro foi praticamente escrito com a intenção de proteger o próprio autor, e dar honras a seu soberano mestre, chamado Cesar Borgia, que além de terrivelmente sanguinário, foi usado por Maquiavel em seu livro, O Príncipe, como um modelo a ser imitado e seguido. Maquiavel não culpava Borgia por suas atrocidades, (como no episódio da morte sangrenta de Ramiro Orco, um dos subordinados de Borgia, que morreu cortado ao meio e atirado em praça pública, para que uma das intençoes de Borgia fosse obtida.)  mas o louvava, e o usou como um dos personagens principais de O Principe. “Cesar Bórgia era um homem sem consciência...e não hesitava em operar crueldades enormes para assegurar e manter seu poder.”  (Benjamin Wiker, obra citada.) Foi o que ocorreu a Ramiro Orco. Borgia o enviou a uma província chamada Romanha, onde havia muitos “assaltos, brigas e todo o tipo de insolência”. Para aplacar esse mal, Borgia envia Ramiro de Orco, que fez todo trabalho sujo de repressão, e matança de líderes. Ramiro se sujou pessoalmente com isso no meio do povo. Depois disso Borgia agiu contra Ramiro, pois “ sabia que precisava fazer o povo acreditar que “se alguma crueldade havia sido feita, isso não vinha dele, mas da natureza implacável de seu ministro.” “Foi então que Bórgia expos Ramiro certa manhã, na praça de Cesena, cortado em dos pedaços. A ferocidade desse espetáculo deixou o povo de uma só vez satisfeito e em estupor.” ( Benjamin Wiker, obra citada). Essa reação de Bórgia na verdade atende propositadamente a um dos postulados mais celebrados dO Principe, segundo o qual. “os meios justificam os fins”, o que criou uma série de antecedentes ao pensamento, ao livro e à pessoa de Maquiavel. Nesses termos, quando os meios justificam os fins, “isso designa um tipo de politica que existe e continuará a existir independentemente de sua influência...uma política que usa de todos os meios, justos, razoáveis ou estúpidos, ferro ou veneno, para obter seus fins.” (“History of Political Philosophy”, by Leo Strauss & Joseph Cropsey, pg. 297). O livro de Maquiavel criou um precedente, ao admitir um tipo de governo e liderança voltada exclusivamente para o lider, ou o rei, ou o presidente de determinado sistema político, em que a característica maior é o despotismo totalitário, é a mentalidade injustificada do governante, que o torna aos poucos um verdadeiro fascista. Sem nos esquecer que grandes lideres políticos na historia foram adeptos de Maquiavel, e aplicaram seus princípios despóticos pra justificar sua orientação política totalitária e fascista. Tal como foi o caso de Mussolini, Hitler, Lenin, Stalin, Mao Tse Thung, Marx, Gramsci e muitos outros, todos aderentes às ideías de Maquiavel.  Uns o defenderam, e outros o atacaram veementemente. Dentre os que o atacaram – cujo numero é bem maior do que os que o defenderam – começaremos com Francesco Vettori, seu contemporâneo e amigo pessoal, que se recusou a ajudar Maquiavel a obter de volta seu emprego burocrático, perdido por questões políticas. Vettori se “esquivou delicadamente de prestar qualquer ajuda ao autor de tamanha patifaria literária” (Olavo, in ”Maquiavel ou a confusão demoníaca”. 2011). Na verdade, já naquela época, Maquiavel havia rompido com toda tradição político-filosófica até então estabelecida como “politicamente normal”. Ele criou um novo padrão no arranjo e na orientação política dada aos governantes a partir de O Principe. Para ele o que importava era que o governante se mantivesse no poder, custe o que lhe custasse.  O cardeal ingles, Reginald Pole, (1500-1558) um quase contemporaneo de Maquiavel, o denunciou como um “espírito satânico, defensor do despotismo e justificador de todas as violências” ( in Lauro Escorel. “Introdução ao Pensamento Político de Maquiavel”. RJ. 1958,p.90 Simões) E William Shakespeare o chamou em um de seus versos como “the murderous Machiavelli” – O assassino Maquiavel. ( Olavo in “Maquiavel, ou a Confusão Demoníaca”. ) Para a Igreja Católica Romana a reação não poderia ter sido outra. No Concílio de Trento de 1564, o livro O Príncipe foi incluído no INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM (Indice dos livros proibidos) que era a lista de publicações consideradas heréticas, anti-clerical, lascivos ou libidinosos até então publicados e regeitados pela Igreja Católica Romana. Mas o  INDEX incluia uma série de autores, filósofos e até teólogos cristãos regeitados como imorais e heréticos dentre eles, Francis Bacon, Copernicus, Galileo, Descartes, John Calvin, Voltaire, Sartre, Kant e muitos outros, até que a própria igreja banil o INDEX em 1966 através de edito do papa Paulo VI.

Mas, a dinâmica da ideologia política dO Príncipe aos poucos vai mudando de tom, dentro desse período histórico de 500 anos em que exerceu sua influência. E isso inclue uma interpretação voltada a atingir até mesmo a Ética Cristã no Mundo Ocidental. É o que veremos a seguir. 

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