Trecho de meu livro A CIDADE DE CAIN E A APOTEOSE DE JAY.
CAP. 10 página 103.
" vingança e de assassinato, agora, a
ponto de serem apagadas pela liberação dos desejos do crime. Tudo era apenas um
ardil planejado para ludibriar o irmão e fazê-lo aceitar a sórdida mentira. Ao
se abaixar para alcançar a pequena rocha, Abel se prendeu com o antebraço
dentro do buraco, semelhante a um pequeno orificio cavado propositadamente no
solo, mais do que se tivesse demonstrado curiosidade na exploração e procura de
pedras semipreciosas em formações naturais no solo da região. Mas, assim era
Abel. Um jovem curioso, encantado com os segredos da Terra, para quem as
belezas do mundo se manifestavam nas procuras que fazia através dos olhos, do
corpo e do coração, como se procurasse pelos segredos criados por Jay, a fim de
também poder ofertá-los como o fazia com a melhor de suas ovelhas. Mas, não se
intimidou, estendeu ainda mais o braço como se seu propósito fosse finalmente o
motivo maior que o impelisse para dentro do buraco, buscando expressar o sinal
positivo de que ao irmão importava-lhe apenas uma simples adesão aos seus
intuitos mais elementares. Aproveitando-se do descuido, no entanto, Cain se
aproximou e sem que Abel o pudesse observar, num movimento brusco do corpo
impelindo-o para traz, ergueu ambos os braços e com a queixada de boi agarrada
fortemente às mãos desferiu impiedosamente o primeiro golpe contra sua nuca, ao
que Abel projetando-se com o peito de encontro ao solo gritou forte, surpreso e
assustado, como se agonizasse, virando-se para o irmão com os olhos já
semiabertos e molhados e a expresssão tensa dos que se surpreendem diante do
vislumbre inesperado da morte, a inadvertida expectativa do oculto,
revelando-lhe que seu fim iminente aproximava-se a galope, como o cavalo negro
da morte com a aparência do insólito nas horas mais detestáveis da noite e no
mais trágico dos seus dias, em cujo lombo uma figura imaginária vestida de
negro sorria-lhe irônica com os dentes da mesma cor, sem que nada nem ninguém a
impedisse de saltar sobre seu corpo afugentando-lhe a figura esquálida com
hálito terrível, um bafo infame, o halo de vida que ainda lhe sobejava. Mas não
seria ela quem o levaria, mas o anjo de Jay que viria logo em seguida, na hora
certa da morte de Abel, no exato instante em que o sopro final de vida cessasse
dentro de si, interrompendo-lhe o fluxo de ar e o alento de vida que até então,
Jay lhe havia soprado. Com olhar aterrorizado sobre a figura maculada do
próprio e único irmão, Abel jamais pôde tê-lo acreditado.
- - Nããoo! Cain! Nãããoooo! gritou e se calou, aceitando com humildade a morte imposta pelo irmão. Este não se apiedou. Liberou-se inteiramente num impulso original, inusitado, misterioso, despejando sobre o irmão toda a violência contida oculta em seus impulsos íntimos. Desferiu-lhe outro golpe, desta feita contra a face exposta de Abel, tão violento quanto o primeiro e tão certeiro quanto os que vieram em seguida. Abel sequer se levantou. Permaneceu preso ao solo sob o peso mortal da queixada de boi, ainda ajoelhado e com a metade do braço enfiada no buraco. Sem que tivesse ao menos tido tempo para esboçar uma simples reação, viu a queixada de boi voando no espaço em direção á sua face, e os olhos
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