PROCESSOS QUE
ENVOLVEM MISSÕES E EVANGELISMO - 8
- Imanência e transcendência. Cultura secular intelectualista e a incultura
humana.
Em primeiro lugar, e de modo bem sumário, é importante que entendamos aqui o que
significa esse conceito de IMANÊNCIA. Imanência, é uma teoria filosófica ou
metafísica da presença divina, em que o divino é manifesto somente dentro do
mundo material, como se Deus se manifestasse por uma concepção humanística, por
exemplo. Neste sentido a idéia de Deus só se manifesta de modo limitado no
mundo material, e isso exclui sua manifestação através de uma concepção
transcendental, fora do mundo material. Isso exclui a idéia de que Deus
préexistia numa realidade transcendente ( fora do mundo material ), como
ocorreu com a manifestação da encarnação de Jesus Cristo. Para os imanentistas
filosóficos, Jesus Cristo não pode ser Filho de Deus, porque os imanentistas se
opõem ao transcendente, e creem que Jesus Cristo é apenas a manifestação de uma
energia de Deus, e não o próprio Deus encarnado. E essa idéia de DEUS ENERGIA é
muito comum no mundo secularizado em que vivemos hoje (como no passado) o que em essência Ele, é incompreendido
como Deus transcendente, portanto, inacessível à nossa compreensão humana. E
tal conceito de imanência tomou conta de grande parte do pensamento filosófico
grego, e se espalhou pelo mundo até hoje. A idéia mais corrente é a de um Deus
inacessível, e portanto, inexpressivo e não alcançável, mas expresso somente a
nível racional, como fruto da razão humana. Neste sentido, para o pensamento
imanente, Deus, foi concebido pela criação da mente humana, pela razão humana.
Quando nós falamos em “paradoxo cristão” ( no cap. 7 desse estudo) estamos nos referindo
a duas realidades aparentemente antagônicas (ou contrárias dialeticamente)
quais sejam, duas realidades que parecem se opor em essência, ou seja, a
realidade humana e a realidade divina, a realidade pertinente à imanência
humana ( que Hegel, Kant, Marx, Jean Paul Sartre e os membros da chamada Escola
de Frankfurt, se referem amiúde em seus sistemas filosóficos ateístas ) e à
realidade transcendente manifesta em Cristo (que Paulo se refere em sua
epístola aos Romanos, claro, não somente Paulo mas TODA a Palavra de Deus ) ao
apresentar seus “argumentos” favoravelmente á VERDADE, que é Jesus Cristo. O que parece impossível ou inconcebível a uma
concepção irracional do pensamento imanente humano, torna-se absolutamente
possível na teologia paulina, nos Evangelhos, quando Jesus manifestou toda a
transcendência divina encarnando no meio da história humana, como a VERDADE
pessoal de Deus Pai. Pelo menos percebemos que a imanência do pensamento
irracionalista humano grego ( como pudemos ver na filosofia contemporânea a
Paulo de Tarso) não conseguiu manifestar a transcendencia dentro da imanência, porque
são incompatíveis, o que para a filosofia grega seria impossível, ou paradoxal,
apesar de o idealismo de Platão ter se aproximado dessa transcendência. Foi isso o
que os gregos imanentistas pitagoristas, epicuristas, socráticos,
aristotélicos, platônicos, edonistas, etc, não puderam entender e isso foi
manifesto através da exposição filosófica do Deus Desconhecido, que na verdade
representa em essência a falha na exposição transcendente do Deus Absoluto da
Biblia e da fé Cristã.
A mitologia grega, na verdade, pôde manifestar a presença real dos
“deuses” pagãos através de sua manifestação em forma de imagens idolátricas, e esta era a razão pela qual os gregos em
Atenas tinham manifesta a presença de centenas de ídolos representados
fisicamente através de imagens. Tais filósofos gregos, abriram então uma
exceção em sua incompreensão a um Deus transcendente, ao apresentá-lo como Um
Deus Desconhecido, sem imagem, porque
o exercício de sua investigação filosófico/metafísica os obrigava a isso. (Paulo, em seu discurso no Areópago de Atenas, não se refere especificamente à existência de "uma imagem" representando o "Deus Desconhecido", como consta de Atos 17:23, o que seria um contracenso.) Essa é, portanto, a principal
distinção entre a imanência que representa deuses através de imagens
idolátricas,e a transcedência que "não sabe" como representá-los fisicamente, mas
os concebe através da fé. Hoje em dia nós vemos a mesma influência da idolatria
grega em religiões que aceitam em sua eclesiologia, e nos seus ensinos doutrinários, a adoração de imagens, como
ocorre em certo sentido na doutrina Católico-Romana.
Isso nós
observamos também no Antigo Testamento, a partir de Exodus, cap. 32:1-29, a
grande crise criada durante a formação do povo de Deus, em que esse mesmo povo
hebreu, criava imagens idolátricas, com o falso intúito de apressar sua compreenção
ao conceito de Deus,e de se assegurar diante Dele, que para eles era ainda e necessariamente( incompreensívelmente) Não-Transcendente e não Absoluto. Deus se manifesta ao povo, liberta-o do Egito
para estabelecer com ele, o povo, uma aliança. Houve portanto, na formação da
fé do povo de Deus, os Hebreus, na época, esse dilema entre evoluir-se de um
conceito de “deus imanentista” idolátrico, para o de “Deus Absoluto, Transcendente”,
e essa evolução representava como que a absorção dessa idéia paradoxal de que
era necessário aceitar a Deus como um ser absoluto e transcendente, antes de
tê-lo como o DEUS PRESENTE Emanuel, em Jesus Cristo. Adorar o DEUS PRESENTE
JESUS CRISTO, não representava a adoração idolátrica de JESUS historica e
fisicamente presente. Isso realmente
criou um nó na cabeça dos judeus, que acabaram por regeitar a Jesus como
Emanuel, a manifestação física da VERDADE absoluta de Deus. Quando Paulo pregou no Areópago de Atenas,
Paulo fez essa conciliação, entre IMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA, para espanto e
ignorância ( e repulsa dos próprios judeus ) de todos os filósofos de então,
presentes durante a exposição paulina, e para espanto de TODA a filosofia que
se diz irracionalista e imanentista até HOJE. Quando JESUS se manifestou em
carne na realidade histórica humana, Jesus também manifestou a conciliação de
que DEUS tornou possível a refutação desse paradoxo aparentemente impossível,
entre imanência e transcendência. Essa é a importância de Paulo para a Teologia
Cristâ, obviamente manifestando a inspiração espiritual do Espírito Santo em
sua vida, ao tornar possível, para o espanto geral, que é possível a realidade
transcendente absoluta de DEUS dentro da imanência histórica humana. JESUS
CRISTO é a resposta, apesar de toda a história da filosofia humana a partir de
então parecer sustentar a idéia irracional da INEXISTENCIA, ou impossibilidade
de compreensão de Deus, como ocorre entre os imanentistas gregos, os gnósticos,
os existencialistas, os marxistas, e neo-marxistas, e acima de tudo entre os ateístas e neo-ateístas.
O que ocorre essencialmente no mundo atual é que nós estamos acostumados a ser
confrontados pela influência dessa tradição imanentista do pensamento
filosófico humano até hoje, como uma normalidade na mente de milhares e
milhares de pessoas, que pensa irracionalmente sem o saber, por influência da
filosofia platônica e neo-platônica também, (bem como da filosofia hegeliana,
da filosofia kantiana, da filosofia marxista, existencialista, etc). E isso sem
que essas milhares de pessoas o saibam que assim pensam sob essa influência. E
isso torna difícil a eficiência do trabalho de evangelização, mas não
impossível a sua eficiência. Porque o trabalho de evangelização não se
manifesta de modo meramente racional/filosofico, mas acima de tudo de modo teológico/espiritual.
Nesse sentido também existe paradoxo. E é por isso importante entendermos o
trabalho do Espírito Santo durante o evangelismo. É necessário alçarmos vôo
acima do mundo meramente imanente e crer no Deus eterno e transcendente criador
de todas as coisas. Caso contrário estaremos fazendo evangelismo em bases
meramente racional/filosófica/ideológica. Como muito bem percebemos, Paulo não
estava preocupado em refutar a filosofia grega em benefício da Teologia Cristã.
Não foi assim. Paulo simplesmente entendeu, viveu e espiritualizou e pregou a verdade
que para ele era o Evangelho de Jesus Cristo, e se preocupou apenas em pregar o
Evangelho, obedecendo ao que Jesus lhe comandou no seu IDE Cristão ao MOVER-SE do
Espírito em Paulo. É muito claro que nós entendemos agora que o Evangelismo se
manifeste dentro do ambiente cultural contemporâneo e isso é imposssível de ser
evitado. E por mais que esse ambiente, esse milieu cultural, essa atualidade do
mundo seja ela secularizada, irracionalizada pelas várias filosofias e
ideologias existentes no mundo hoje, nós precisamos pregar o Evangelho em bases
cristãs,em bases bíblicas, em bases estabelecidas por Jesus no Evangelho, ou em
bases orientadas pelo Espírito Santo. Evangelismo não é e não pode ser encarado
como uma mera opção bíblica. Mas, é uma DEMANDA da Palavra de Deus, cristã, dentro
do mundo da forma como ele se apresenta real no dia-a-dia. E esse parece ser o grande problema
enfrentado por nosso Evangelismo hoje: apresentar o paradoxo cristão a um mundo
secularizado e irracionalmente imanentista.
De modo real, este é o grande confronto histórico/cultural
enfrentado por aqueles que saem para pregar o Evangelho de Jesus Cristo. As
forças espirituais do mal, estão enraizadas na mente humana na forma de dezenas
de doutrinas e ideologias que impedem a penetração do evangelho formando um
aglomerado ideológico, muitas vezes definido como “secularismo”, impactando a
vida da cidade como um todo, formando um conglomerado cultural, um amálgama
sólido composto de várias concepções ideológicas, como já dissemos, que
bloqueiam a mente humana na aceitação da mensagem espiritual da VERDADE, que abre a mente para as possibilidade reais da Transcendência Divina. Mas,
aí também existe um componente paradoxal urbano, porque em meio ao secularismo
subsistem forças espirituais, ou religiosas, que admitem uma abertura para a
transcendência espiritual de Deus. Harvie M. Conn em seu livro A CLARIFIED VISION
FOR URBAN MISSION, à página 101, nos diz que A cidade absorve essa dualidade
entre o secular e o espiritual, como “the
city as both religious and secular, turning away from God and turning to Him as well”, numa evidência clara de
que a cidade pode ser fortemente secular aceitando a influência de várias ideologias
anti-cristãs, e a possibilidade de aceitar ao mesmo tempo a pregação da
mensagem evangelística. Nesse sentido, “secularism may not always be the strongest reason for what some see to
be the failure of the church in the city”. ( O secularismo pode não ser sempre a razão
mais forte para o que alguns entendem ser a impotência, ou a fraqueza da igreja
na cidade.) Isso quer nos dizer que outros fatores influenciam na ineficiência
do evangelismo na cidade, ou na atuação da igreja no campo missionário urbano. Não
somente o fator cultural, mas ainda, o fator ideológico, o fator materialista, a carência de identidade espiritual, o carater espiritual do evangelista, e além disso, a influência da cultura materialista na mente dos indivíduos que compõem o
ambiente urbano, e até mesmo a cultura técnico/informatizada, impedindo uma
pureza de alma e espírito na direção do Evangelho de Jesus. Mesmo dentro das
igrejas cristãs, existe a influência de fatores ideológicos, através da
infiltração de ideologias tão arraigadas no milieu cultural urbano
eclesiástico, que se torna muitas vezes difícil entender e aceitar a doutrina
cristâ bíblica, como a única capaz de orientar espiritualmente a igreja na
direção de um evangelismo bíblico. É portanto conveniente que em meio a toda a
influênciaa secular e ideológica no mundo atual, ou dentro das igrejas, nós, cristãos evangélicos, nos
revistamos da única arma da milícia Cristã capaz de nos acobertar e nos dar
poderes suficientes para levar o evangelho, com eficácia, com a prevalecente
manifestação dos frutos do evangelismo, através da graça espiritual que nos vem
com o Espírito Santo.
(Abrindo um parênteses, Harvey Cox define
Secularismo como sendo uma realidade dentro da civilização urbana, em cidades
que ele define como “tecnópolis”, que assumem um novo conceito ou uma cosmovisão da realidade, suplantando a
superação do homem como ser que se liberta “ primeiro da religião e depois do controle metafísico sobre sua razão,
e sobre sua linguagem”. ( Cf. “The
Secular City-Secularization and Urbanization
in Theological perspective”, by Harvey
Cox, The Macmillan Co. USA).
Isto quer dizer que no secularismo, o homem vira sua face contrariamente à
religião ou à idéia de um Deus transcedednte, ou às implicações metafísicas
dessa transcendência, voltando-se apenas para a realidade urbano-secular,
materialista, imanentista e tecnocentrista, de um mundo em que o que importa é
somente a ideologia do materialismo, o ateísmo, e o esquecimento da realidade
espiritual.)
Diante de toda esta exposição, somos agora
levados a avaliar a influência do fator cultural dentro do ambiente urbano, no
que nós chamamos de a influência da cultura secular intelectualista, e a
influência do evangelismo em meio à incultura humana, para podermos avaliar em que meio-ambiente a mensagem
evangelística é mais acessível, pregada e passível de ser mais aceita, e onde existe
uma viabilidade espiritual bem maior, no que se refere à aceitação do
evangelismo urbano hoje, como também o foi no passado. É o que veremos a seguir.
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