PROCESOS QUE ENVOLVEM MISSÕES E EVANGELISMO – 9
Cultura secular intelectualista e a incultura humana. Responsabilidade
profética das Epístolas Paulinas para o Evangelismo.
Dentro do
caráter profético e teológico dos escritos epistolares paulinos, nós podemos
afirmar sem sombra de dúvidas, que Paulo não fundou a igreja de Roma e que
portanto, Paulo não é o responsável direto pelos rumos que a Igreja Romana
tomou na história eclesiástica da Igreja Cristã. A julgar pela análise profunda
e teológica da Epístola aos Romanos, podemos perceber isso claramente. É
evidente que se afirme também, que Paulo não foi o responsável direto pelas
projeções estabelecidas em sua dinâmica histórica pela igrejas fundadas por
ele. Porque as intenções do gênio, ou do
espírito humano, são imprevisíveis, a julgar pelas advertências originais
alertadas pelo próprio Apóstolo Paulo quando escreveu e enviou suas demais
epístolas às outras igrejas por ele fundadas. Mas, de uma coisa estamos seguros
em referência à epístola aos Romanos. Paulo jamais pretendeu obstruir o
entendimento do paradoxo cristão na mente dos cristãos de Roma, a julgar por
toda a orientação profundamente espiritual/teológica estabelecida por ele na
epístola aos Romanos, a mais profunda teologicamente, e pela orientação teológica que ele nos transmite, registrada biblicamente
no livro de Atos dos Apóstolos. Em Romanos 9:6b Paulo diz que “For
not all who are descended from Israel are Israel” (NIV), ou seja,
“Nem todos os que são descendentes de Israel, são Israel”, numa clara alusão de
que nem todos os que seguiram sua orientação apostólica epistolar espiritual e
Cristã, podem ser considerados seus seguidores ou de seus escritos biblicos,
orientados espiritualmente à luz da fé cristã. Isso nos permite concluir, o que
seria de Paulo se soubesse das orientações doutrinárias seguidas ao longo da
história da Igreja Cristã, pela igreja de Roma atual? Deus certamente o poupou
da responsabilidade profética que pesou sobre as igrejas tanto as fundadas por
ele, quanto as que ele não fundou.
(Um dos relatos dos problemas
enfrentados por Paulo em Corinto, estão descritos no livro de Atos dos póstolos
18:6, quando em companhia de Silas e Timóteo, Paulo se entregou à pregação do
evangelho aos judeus, e lá Paulo enfrentou uma séria oposição que o levou a se predispor severamente contra
os judeus incrédulos, agitar suas vestimentas raivosamente e a declarar que “Your blood be on your own heads! I am clear of my responsability. From
now on I will go to
the Gentiles.” (
“O seu sangue esteja sobre vossas cabeças! Eu me disfaço de minhas
responsabilidades. De agora em diante irei aos gentis!”) Isso mostram as dificuldades enfrentadas por
Paulo com os judeus em seu carater teimoso
e repulsivo e o cenário do momentum histórico da época em que Paulo pregava o
evangelho. Além disso mostra o desvio na dinâmica evangelística assumida por ele, ao declarar-se favoravel aos gentis. )
E este, o desvio teológico e doutrinário
assumido por muitas igrejas atuais, revelam de modo geral, os caminhos
assumidos pelas igrejas cristãs, à revelia de uma profunda interpretação
profética dos escritos paulinos. Tal foi o cuidado que Paulo manifestou ao
escrever suas epístolas, seguramente todas elas escritas sob orientação do
Espírito Santo, e tal deve ser o cuidado de nosso evangelismo hoje como em todos
os tempos. Nós precisamos estar acima de tudo sendo orientados espiritualmente
pelo Espírito Santo de Jesus, ao saírmos ao campo evangelístico e missionário. E
além disso, precisamos nos lembrar sempre que o mestre orientador de Paulo de
Tarso se chama JESUS CRISTO, o Filho do Deus Altíssimo, a VERDADE absoluta de
DEUS PAI. E tudo isto acontecendo apesar de problemas enfrentados por Paulo em
suas missões evangelísticas, o que não nos impede de buscar a mesma orientação.
A cultura de
cada país e de cada cidade em todo o seu aglomerado urbano e político, molda as
cidades e produz diferentes componentes sócio/culturais, que certamente influenciam
seus cidadãos, transformam suas aspirações pessoais, suas alternativas e opções
religiosas, e seu comportamento, relativamente ao espaço cultural urbano
criado, que passa a ser moldado historicamente e se perpetua através do tempo.
Um exemplo disso vemos na Grécia do tempo de Paulo, em cidades como Corinto e
Atenas, estrutural e cultualmente diferentes, em função de sua tradição
cultural, social e religiosa. Enquanto Atenas era acima de tudo uma cidade
universitária com um forte apelo intelectualista, onde a filosofia se tornou
tradicionalmente uma tendência cultural fortemente enraizada por sua tradição,
herdada pela herança trazida por seus filósofos, Corinto era uma das mais
influentes cidades da Grecia, politica e comercialmente, o que não descartava
sua característica como cidade também culturalmente influente na filosfia, com
um povo interessado na cultura filosófica grega, e também na idolatria
religiosa de seus doze templos, cada um dedicado a diferenes deuses ou deusas
da mitologia grega. E um de seus templos mais influentes era o dedicado à deusa
Afrodite, construído numa região elevada da geografia da cidade, onde seus frequentadores praticavam a prostituição religiosa, cuja importância
para os corintos, transformou a cidade numa espécie de meca do paganismo, da
idolatria e da imoralidade sexual, em cujo templo existiam cerca de mil
prostitutas, chamadas de sacerdotisas, habitando suas dependências. Além desse
templo, existiam ainda os dedicados a Apolo, a Asclépios, o deus da cura, e
outros. Na cidade de Corinto, Paulo escreveu duas de suas epístolas ( 1 e 2
Corintios ) numa cidade grandemente secularizada e cosmopolita. A sua 1ª Carta
aos Corintios reflete a dificuldade que Paulo teve em manter uma comunidade
cristã dentro de seus limites fortemente secularizados. Na época em que Paulo
esteve em Corinto, a cidade já havia sido reconstruída por Julius Ceasar (o Império Romano era ainda a força geopolítica reinante) que
lhe restituiu suas característica culturais e arquitetônicas, restaurando-lhe
também sua tradição helenística no ensino, mas também no culto pagão, na
idolatria, e na imoralidade sexual. Para a cidade foram atraídos italianos,
gregos, assírios, egípcios, e escravos livres da judéia e outras regióes da
Galácia, da Macedônia (como Silas e Timóteo), da Fenícia, etc. É evidente que em todas essas carcterísticas
sócio/culturais, existe uma forte semelhança entre a cultura de nossos
antepassados no que vemos hoje, em nossas cidades e áreas urbanas. Portanto, o
que vemos hoje, não é novidade a julgar pela deterioração da cultura humana de
modo geral. O que Paulo viu, sofreu e enfrentou em Corinto, em Atenas e em
outras cidades, durante suas viagens evangelísticos/missionárias, certamente os
evangelistas dos dias atuais também enfrentariam, veriam e sofreriam ao pregar
o mesmo Evangelho de Jesus Cristo. Hoje nós vemos cidades com mesmas
carcaterísticas sócio/culturais, onde também predominam o secularismo e suas
vertentes de idolatria, perversão sexual, imoralidade, paganismo, materialismo,
corrupção, miscigenação cultural e toda a sorte de pecados e crimes que
identificam a história do passado, com a história dos tempos pós-modernos. No
ambiente semelhante ao que Paulo viveu, nós também estamos vivendo e não
podemos esperar uma mudança imediata e significativa, apesar de todo o esforço
das igrejas cristãs e do evangelismo sendo pregado. Mas, assim como Paulo
insistiu e não se intimidou com a cultura secular de seu tempo, assim devemos
fazer, e todos aqueles que se propõem a pregar o evangelho de Jesus Cristo em
bases urbanas idênticas, enfrentando também toda a sorte de problemas e
perigos. Não foram apenas os problemas culturais e religiosos os enfrentados
por Paulo. Toda a sorte de problemas políticos tambem existiram. Paulo não
esteve em Roma apenas por questões de logística ou por falta de condições
financeiras. Alguns fatores politicos quase o impediram de ir para lá. O livro de
Atos dos Apóstolos faz o relato de expulsões de Judeus de Roma por volta de 19
A.D., quando por ocasião de um edito de Tiberius, milhares de judeus foram
expulsos de lá, e tiveram que enfrentar éditos e decisões posteriores
prescritas por Caius, que empreendeu severa perseguição desde o início de seu
reinado. Com a morte de Caius, seu sucessor, o imperador Claudius, restaurou
para os judeus um tempo de alguma liberdade religiosa e os direitos que eles tinham
adquiridos anteriormente. Isto por volta de 41 A.D., quando Claudius assinou um
édito de tolerância em benefício dos judeus, apesar de medidas
repressivas terem prevalecido. O livro de Atos dos Apóstolos faz o relato em
18:1, afirmando que por causa do edito de Claudius, todos os judeus (certamente
cristãos) foram expulsos de Roma, apesar de um remanescente ter permanecido. Por
esta época, o Evangelho de Jesus já havia aparecido na história da comunidade
judáica de Roma, não antes de terem sofrido expulsões e terem sido proibidos de
se reunirem em público, certamente em função do florescimento da igreja cristã
em Roma e na época em Paulo lá esteve ( cf. Atos dos Apóstolos cap. 28 ). Numa dessas expulsões alguns judeus-cristãos foram para Corinto, na
Grécia, ocasião em que Paulo se encontrou com Áquila e Priscila, com quem
permaneceu e trabalhou durante algum tempo, antes de sua viagem à capital do Império.( Cf. "Early History of The Christian Church - volume I, From its foundation to the End of the Third Century", by Louis Duchesne e muitos outros.)
Mas da mesma
forma como Paulo enfrentou violência juntamente com cristãos martirizados e
subjulgados por perseguições, leis e éditos injustos, assim também hoje existe
similaridade com o que ocorreu no passado com os cristãos. Hoje vemos cristãos
sendo perseguidos na África, por grupos fundmentalistas radicais islâmicos, bem como na Ásia, ao
sofrerem perseguição e violência de morte. Mas, também vemos, simultaneamente, muita intolerância
não-violenta acontecendo nos países ocidentais,(o que não era tão comum na
época de Paulo) que se manifesta da seguinte forma: hoje existem ideologias que
por si só criaram uma oposição branca, não violenta, que introduziram uma
aversão ao cristianismo através de outro método represssivo, não-violento,
porém cultural. Hoje é mais fácil sermos confrontados culturalmente no mundo
ocidental, por uma cultura secularizada, neo-ateísta, pragmática e
essencialmente materialista e irracional, do que sermos confrontados por um apelo meramente
agressivo e violento. E esse confronto, atinge diretamente as forças de
oposição sustentadas pelo Evangelho de Jesus, enquanto o mundo avança na
direção de sua própria destruição moral e religiosa. Hoje é a chamada revolução
cultural que se opõe ao cristianismo, ou aos tres pilares da civilização
ocidental, ( a Moral ou ética judaco-cristã, a filosofia grega e o direito
romano ) impondo-lhe suas próprias ideologias e sua dialética de destruição
cultural. E na base dessa dialética de destruição está o secularismo e a ideologia
do Marxismo Cultural, que impõe severas restrições não só à estrutura
estabelecida ( ao status quo ) da cultura religiosa ocidental, mas à mente de
milhares e milhares de pessoas, jovens, adultos e adolescentes, que muitas
vezes, sem o saberem, respiram, vivem e absorveram tal influencia ideológica. E
este fenomeno cultural revolucionário, é o que atualmente cria problemas e
impede o avanço do evangelismo da igreja cristã no cenário cultural e urbano. O
pensamento cristão, o evangelismo cristão, se encontra hoje profundamente
confrontado e sabotado por uma ideologia irracional, imanentista e neo-marxista, que tem por intúito
principal, a destruição da influência do cristianismo no mundo ocidental, e em
todo o mundo, de modo geral. E dentro deste cenário de confronto cultural, nós,
como evangelistas precisamos conhecer a quem estaremos levando a mensagem do
Evangelho de Jesus Cristo, e por que tipo de cultura seremos confrontados, para
que a mensagem evangelista possa recorrer dos frutos imediatos da mensagem
cristã, os frutos do evangelismo. Hoje como no passado, os
cristãos são as vítimas da opressão sócio/cultural da sociedade secular, imposta por inimigos culturais, e isto
não quer dizer que nós devamos conhecê-los para discriminá-los. Jesus nos
ensina a pregar o evangelho a toda a criatura, indiscriminadamente. Conhecer
nossos inimigos humanos, não significa que devamos excluí-los, ou impedi-los de
ouvir a mensagem do evangelho. Conhecer nossos inimigos, significa conhecê-los para
salvá-los. O Pastor Coty, em uma de suas alocuções diz que “andar com Jesus
hoje,(como no passado) implica em entrarmos numa Rota de Colisão” com o mundo secular, e com a
própria ameaça satânica. E o secularismo, segundo Harvey Cox, não representa
uma força de oposição e desestimulo ao método cristão de evangelisar, mas abre
portas a novas oportunidades para que
nós evangelistas, nos fortaleçamos e criemos novos métodos alternativos
e contextualizados de pregação do Evangelho de Jesus Cristo. É o que veremos a
seguir. ( Cf. op.cit. " The Secular City", by Harvey Cox.)
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