PROCESSOS
QUE ENVOLVEM MISSÕES E EVANGELISMO: 6
- Arrependimento Moral e psicológico. A
importância de seu entendimento para o evangelismo.
Apesar de que o assunto relativo ao
arrependimento moral e psicológico já foi em parte debatido no capítulo 5 deste
estudo, vamos prosseguir numa abordagem ainda mais completa e profunda sobre o
tema. Porque esse assunto tem a ver com
os objetivos finais do evangelismo, em sua proposta de provocar um
arrependimento total (ou parcial) no coração daqueles que recebem e absorvem ou
não a mensagem pregada do Evangelho de Jesus Cristo. E esse objetivo tem a ver
com a proposta de salvação do gênero humano, para a qual Deus mandou seu Filho.
Aliás, foi com esse propósito que Jesus Cristo veio ao mundo.
Não
apenas Paulo fala sobre a IRA de Deus sobre os filhos da desobediência. Muitos
outros livros e referencias bíblicas nos falam sobre a Ira de Deus no AT como
no NT. Também João 3:36 alerta-nos sobre: “Whoever believes in the Son
has eternal life, but whoever rejects the Son will not see life, for God’s
Wrath remains on them”. João nos alerta sobre a IRA MORAL de
um Deus que nos ama moralmente. E nossa resposta deve ser correspondida ao
mesmo nível moral, para que possamos nos esquivar das falácias causadas por um
arrependimento meramente psicológico. Assim como Paulo, João Batista também
pregava arrependimento moral, como já dissemos.
Existe uma analise interessante feita por
Francis Schaeffer em seu livro “Death in
The City”, com relação ao que Terry Southern escreveu no prefácio do livro “Writers in Revolt”. ( “Writers
in Revolt – An anthology of the most controversial writing in the world today”.
Berkley Publishing Co., 65, New York USA.) Schaeffer comenta que Terry Southern
admite que existe uma “ distinction between the Communist Countries, in which
the state has built arbitrary absolutes on the basis of arbitrary law, and the
Western Countries, which has oriented everything psychologically”. ( “Death in the City”, page 106).
Isto quer dizer que, de acordo com T. Southern, nos países comunistas existe essa
idéia de formular conceitos arbitrariamente legais baseados em dispositivos arbitrários,
absolutos, evidentemente não relativos, mas definidos a partir da vontade que
formula conclusões legais de modo positivo, não meramente constitucionais. E
tal atitude cria dispositivos ou julgamentos mais concretos, baseados em leis
abstraídas do senso comum, mais objetivas.
E nos países do Ocidente, tais critérios
de julgamento seguem a modelos mais subjetivos, formulados a partir de
conclusões psicológicas. E isso nós observamos constantemente em leis
promulgadas por governantes que apelam para as decisões pessoais de indivíduos que adotam critérios absolutamente psicológicos e subjetivos ao assumirem
determinado comportamento dentro da sociedade. Os padrões de comportamento moral estão simplesmente
desaparecendo e dando lugar às opções subjetivas, psicológicas. A idéia de que
o crime atualmente é entendido dentro de um critério de julgamento psicológico,
responde a tal distinção. Os crimes hoje em dia são analisados desta forma,
considerando seus componentes psicológicos, pessoais, subjetivos, ainda que os
crimes sejam cometidos contra o gênero humano (genocídios), crimes hediondos
contra outros seres humanos isolados, vítimas de barbáries, ou até mesmo crimes
perpetrados contra a natureza, onde os motivos quase sempre são meramente
pessoais ou psicológicos. Terry Southern
acrescenta na introdução do livro, (pg.13) que “todos os fenômenos que são
agrupados para fora do reino das ciências, são agora explicados e analisados
psicologicamente, ao que incluem a arte e a religião tradicional.” “ Todas as definições que não são puramente
físicas, são definições psicológicas. A ética do comportamento, ou em outras
palavras, as justificativas aos relacionamentos humanos, quer sejam de natureza
pessoal, ou entre pais e filhos, são prescritas ou pré-estabelecidas psicologicamente”.
“Consideremos,
por exemplo, continua T. Southern, nossa atitude contemporânea frente ao crime
ou aos criminosos. Pois aí reside nossa mais acentuada reflexão atual. Porque
uma sociedade criminal é acima de tudo antissocial. E quais são as implicações
que resultam do entendimento do crime ou do ato criminoso?” Suas implicações são as de que, em seu
significado mais ultimado, não existe
essa coisa chamada crime quando os valores morais são deteriorados por algum
determinismo causal e/ou desprovidos de responsabilidade moral. Isso nos leva a crer que assumir publicamente a ineficiência ou ilegitimidade de um ato
criminoso, ou até mesmo pecaminoso, é
afirmar que os valores morais de nossa sociedade e cultura atuais perdem a cada
geração a consciência de que tais valores ainda existem e são sustentados pela
consciência de que há uma moral baseada em valores absolutos e transcendentes. Esse
é um fenômeno que ocorre nos tempos atuais, na sociedade secular pós-moderna,
ou seja, a perda quase absoluta dos valores morais ou da responsabilidade moral
atribuída aos atos humanos, em face ao crime, ou a qualquer pecado cometido à
revelia da moral cristã. Nesse sentido é
conveniente se afirmar que existe uma moral cristã que fundamenta os seus
valores morais absolutos e transcendentes em Deus. Essas seriam as conclusões a que Terry
Southern chegaria se ele fosse analisar o fenômeno do crime, como o pecado,
praticado pelo homem afastado da consciência dos valores morais transcendentes
ou absolutos, centrados na existência de Deus ou da Moral Cristã. Na verdade cada
país civilizado hoje, consegue sublimar a idéia de crime, transportando-a para
o âmbito de um componente meramente psicológico, ou explicado como consequência
de um distúrbio mental, psicológico, ou parapsicológico, ou até mesmo paranormal,
com implicações na mente humana disrítmica. E por desconhecer a natureza mais
profunda dos mecanismos que geram crimes e pecados, muitos são levados a
admitir que eles são perpetrados e maquinados por mentes psicologicamente ou
emocionalmente perturbadas, desconsiderando quaisquer componentes espirituais
ou profundamente morais. Existem centenas de exemplos que provam esta tese de
Terry Southern, em bases profundamente histórico/sociais mas também em
consonância com o comportamento ético/moral de cada ser humano. Existem também
outras aproximações ao fenômeno do comportamento moral que determinam a
ausência de consciência moral, que permite à mente optar por esta ou aquela
atitude, sem comprometer seu componente psicológico, mas comprometendo
seriamente seus valores morais. Isso ocorre quando o homem opta por uma
consciência moral autônoma, ou pela
autonomia da mente racional. ( esse
é um assunto para outro estudo ).
Quando se trata de analisar o processo de
salvação humana diante de nossa culpa moral face ao pecado que nos separa de
Deus, somos levados a crer que nós podemos estar isentos dessa culpa moral. E
isso nos leva erroneamente ao entendimento de que o que precisamos realmente é
de um mero alívio psicológico sentimental. Ou seja, a idéia de um profundo
arrependimento moral deixa de existir em substituição por uma necessidade de
alívio psicológico. Mas, a mensagem Cristã – conforme expõe Schaeffer e como o
apóstolo Paulo também acrescenta – não se refere apenas ao alívio emocional,
mas mostra-nos que nossa profunda culpa moral diante de um Deus Puro, Santo e
Verdadeiro, nos move também ao verdadeiro arrependimento moral nos moldes de
muitos modelos bíblicos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamentos, ou nos
moldes da lei divina que apela para a consciência de que o homem também precisa
ser santo como o próprio Deus é santo, para se apropriar conscientemente de um
profundo arrependimento moral. Isso fundamenta nossa moral cristã.
Mas, o processo de salvação a partir da
pregação do Evangelho de Jesus Cristo não pode se basear somente na consciência
do arrependimento moral pura e simples.
Tal afirmação parece negar tudo o que foi dito acima acerca dos efeitos
causados pelo Evangelho no coração de quem ouve a mensagem evangelística. Ela
representa um divisor de águas, como efeito do processo de evangelismo. Ou
seja, não podemos atribuir ao evangelismo em sua atuação, contar somente com as
reações pessoais do “evangelizando”ou, em outras palavras, o impacto da
pregação do Evangelho não pode permitir somente a opção de livre escolha
absoluta, a tal ponto de essa livre escolha se tornar determinante na opção
pela Verdade do Evangelho. Existem outros sérios elementos e componentes que
estão interagindo nesta opção. Sim, nós podemos optar e escolher livremente
aceitar ou não a mensagem salvífica do Evangelho, mas não podemos admitir que o
livre arbítrio deve ter um papel
determinante nesta escolha. Simplesmente porque o ser humano perdeu a opção
do Livre Arbítrio quando pecou. Livre arbítrio implica na existência de uma
opção absolutamente livre de qualquer contaminação pelo pecado. Neste sentido
podemos admitir que somente Adão e Eva, antes do pecado, tiveram a opção livre
do Livre Arbítrio. Nós, seres humanos, temos no mínimo o poder de escolher
livremente aquilo que nos convém, dentro de nossa consciência pecaminosa. A
questão mais profunda agora é saber se nós seres humanos temos consciência
total e verdadeira quando optamos por rejeitar a mensagem evangelistica. Isso
nos permite afirmar com Archibald B.D. Alexander (apesar de toda sua influência Kantiana), que “Ao estimar o valor do ser
humano todos os fatos da consciência e da experiência devem ser considerados”.
(“Christianity and Ethics. A handbook of Christian Ethics”. By Archibald B.D.
Alexander. USA 2014)
Nessa nova abordagem, Paulo também nos responde
à luz da inspiração divina. É o que veremos a seguir.
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