Friday, May 22, 2015


PROCESSOS QUE ENVOLVEM MISSÕES E EVANGELISMO:  6
- Arrependimento Moral e psicológico. A importância de seu entendimento para o evangelismo.
Apesar de que o assunto relativo ao arrependimento moral e psicológico já foi em parte debatido no capítulo 5 deste estudo, vamos prosseguir numa abordagem ainda mais completa e profunda sobre o tema.  Porque esse assunto tem a ver com os objetivos finais do evangelismo, em sua proposta de provocar um arrependimento total (ou parcial) no coração daqueles que recebem e absorvem ou não a mensagem pregada do Evangelho de Jesus Cristo. E esse objetivo tem a ver com a proposta de salvação do gênero humano, para a qual Deus mandou seu Filho. Aliás, foi com esse propósito que Jesus Cristo veio ao mundo.
 Não apenas Paulo fala sobre a IRA de Deus sobre os filhos da desobediência. Muitos outros livros e referencias bíblicas nos falam sobre a Ira de Deus no AT como no NT. Também João 3:36 alerta-nos sobre: “Whoever believes in the Son has eternal life, but whoever rejects the Son will not see life, for God’s Wrath remains on them”.  João nos alerta sobre a IRA MORAL de um Deus que nos ama moralmente. E nossa resposta deve ser correspondida ao mesmo nível moral, para que possamos nos esquivar das falácias causadas por um arrependimento meramente psicológico. Assim como Paulo, João Batista também pregava arrependimento moral, como já dissemos.
Existe uma analise interessante feita por Francis Schaeffer em seu livro “Death in The City”, com relação ao que Terry Southern escreveu no prefácio do livro “Writers in Revolt”. ( “Writers in Revolt – An anthology of the most controversial writing in the world today”. Berkley Publishing Co., 65, New York USA.) Schaeffer comenta que Terry Southern admite que existe uma “ distinction between the Communist Countries, in which the state has built arbitrary absolutes on the basis of arbitrary law, and the Western Countries, which has oriented everything psychologically”. ( “Death in the City”, page 106). Isto quer dizer que, de acordo com T. Southern, nos países comunistas existe essa idéia de formular conceitos arbitrariamente legais baseados em dispositivos arbitrários, absolutos, evidentemente não relativos, mas definidos a partir da vontade que formula conclusões legais de modo positivo, não meramente constitucionais. E tal atitude cria dispositivos ou julgamentos mais concretos, baseados em leis abstraídas do senso comum,  mais objetivas.  E nos países do Ocidente, tais critérios de julgamento seguem a modelos mais subjetivos, formulados a partir de conclusões psicológicas. E isso nós observamos constantemente em leis promulgadas por governantes que apelam para as decisões pessoais de indivíduos que adotam critérios absolutamente psicológicos e subjetivos ao assumirem determinado comportamento dentro da sociedade. Os padrões de comportamento moral estão simplesmente desaparecendo e dando lugar às opções subjetivas, psicológicas. A idéia de que o crime atualmente é entendido dentro de um critério de julgamento psicológico, responde a tal distinção. Os crimes hoje em dia são analisados desta forma, considerando seus componentes psicológicos, pessoais, subjetivos, ainda que os crimes sejam cometidos contra o gênero humano (genocídios), crimes hediondos contra outros seres humanos isolados, vítimas de barbáries, ou até mesmo crimes perpetrados contra a natureza, onde os motivos quase sempre são meramente pessoais ou psicológicos.  Terry Southern acrescenta na introdução do livro, (pg.13) que “todos os fenômenos que são agrupados para fora do reino das ciências, são agora explicados e analisados psicologicamente, ao que incluem a arte e a religião tradicional.”  “ Todas as definições que não são puramente físicas, são definições psicológicas. A ética do comportamento, ou em outras palavras, as justificativas aos relacionamentos humanos, quer sejam de natureza pessoal, ou entre pais e filhos, são prescritas ou pré-estabelecidas psicologicamente”.   “Consideremos, por exemplo, continua T. Southern, nossa atitude contemporânea frente ao crime ou aos criminosos. Pois aí reside nossa mais acentuada reflexão atual. Porque uma sociedade criminal é acima de tudo antissocial. E quais são as implicações que resultam do entendimento do crime ou do ato criminoso?”  Suas implicações são as de que, em seu significado mais ultimado, não existe essa coisa chamada crime quando os valores morais são deteriorados por algum determinismo causal e/ou desprovidos de responsabilidade moral.  Isso nos leva a crer que assumir publicamente a  ineficiência ou ilegitimidade de um ato criminoso, ou até mesmo pecaminoso,  é afirmar que os valores morais de nossa sociedade e cultura atuais perdem a cada geração a consciência de que tais valores ainda existem e são sustentados pela consciência de que há uma moral baseada em valores absolutos e transcendentes. Esse é um fenômeno que ocorre nos tempos atuais, na sociedade secular pós-moderna, ou seja, a perda quase absoluta dos valores morais ou da responsabilidade moral atribuída aos atos humanos, em face ao crime, ou a qualquer pecado cometido à revelia da moral cristã.  Nesse sentido é conveniente se afirmar que existe uma moral cristã que fundamenta os seus valores morais absolutos e transcendentes em Deus.  Essas seriam as conclusões a que Terry Southern chegaria se ele fosse analisar o fenômeno do crime, como o pecado, praticado pelo homem afastado da consciência dos valores morais transcendentes ou absolutos, centrados na existência de Deus ou da Moral Cristã. Na verdade cada país civilizado hoje, consegue sublimar a idéia de crime, transportando-a para o âmbito de um componente meramente psicológico, ou explicado como consequência de um distúrbio mental, psicológico, ou parapsicológico, ou até mesmo paranormal, com implicações na mente humana disrítmica. E por desconhecer a natureza mais profunda dos mecanismos que geram crimes e pecados, muitos são levados a admitir que eles são perpetrados e maquinados por mentes psicologicamente ou emocionalmente perturbadas, desconsiderando quaisquer componentes espirituais ou profundamente morais. Existem centenas de exemplos que provam esta tese de Terry Southern, em bases profundamente histórico/sociais mas também em consonância com o comportamento ético/moral de cada ser humano. Existem também outras aproximações ao fenômeno do comportamento moral que determinam a ausência de consciência moral, que permite à mente optar por esta ou aquela atitude, sem comprometer seu componente psicológico, mas comprometendo seriamente seus valores morais. Isso ocorre quando o homem opta por uma consciência moral autônoma, ou pela autonomia da mente racional. ( esse é um assunto para outro estudo ).
Quando se trata de analisar o processo de salvação humana diante de nossa culpa moral face ao pecado que nos separa de Deus, somos levados a crer que nós podemos estar isentos dessa culpa moral. E isso nos leva erroneamente ao entendimento de que o que precisamos realmente é de um mero alívio psicológico sentimental. Ou seja, a idéia de um profundo arrependimento moral deixa de existir em substituição por uma necessidade de alívio psicológico. Mas, a mensagem Cristã – conforme expõe Schaeffer e como o apóstolo Paulo também acrescenta – não se refere apenas ao alívio emocional, mas mostra-nos que nossa profunda culpa moral diante de um Deus Puro, Santo e Verdadeiro, nos move também ao verdadeiro arrependimento moral nos moldes de muitos modelos bíblicos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamentos, ou nos moldes da lei divina que apela para a consciência de que o homem também precisa ser santo como o próprio Deus é santo, para se apropriar conscientemente de um profundo arrependimento moral. Isso fundamenta nossa moral cristã.
Mas, o processo de salvação a partir da pregação do Evangelho de Jesus Cristo não pode se basear somente na consciência do arrependimento moral pura e simples.  Tal afirmação parece negar tudo o que foi dito acima acerca dos efeitos causados pelo Evangelho no coração de quem ouve a mensagem evangelística. Ela representa um divisor de águas, como efeito do processo de evangelismo. Ou seja, não podemos atribuir ao evangelismo em sua atuação, contar somente com as reações pessoais do “evangelizando”ou, em outras palavras, o impacto da pregação do Evangelho não pode permitir somente a opção de livre escolha absoluta, a tal ponto de essa livre escolha se tornar determinante na opção pela Verdade do Evangelho. Existem outros sérios elementos e componentes que estão interagindo nesta opção. Sim, nós podemos optar e escolher livremente aceitar ou não a mensagem salvífica do Evangelho, mas não podemos admitir que o livre arbítrio deve ter um papel determinante nesta escolha. Simplesmente porque o ser humano perdeu a opção do Livre Arbítrio quando pecou. Livre arbítrio implica na existência de uma opção absolutamente livre de qualquer contaminação pelo pecado. Neste sentido podemos admitir que somente Adão e Eva, antes do pecado, tiveram a opção livre do Livre Arbítrio. Nós, seres humanos, temos no mínimo o poder de escolher livremente aquilo que nos convém, dentro de nossa consciência pecaminosa. A questão mais profunda agora é saber se nós seres humanos temos consciência total e verdadeira quando optamos por rejeitar a mensagem evangelistica. Isso nos permite afirmar com Archibald B.D. Alexander (apesar de toda sua influência Kantiana), que “Ao estimar o valor do ser humano todos os fatos da consciência e da experiência devem ser considerados”. (“Christianity and Ethics. A handbook of Christian Ethics”. By Archibald B.D. Alexander. USA 2014)
Nessa nova abordagem, Paulo também nos responde à luz da inspiração divina. É o que veremos a seguir. 

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