Saturday, December 27, 2014



PROCESSOS QUE ENVOLVEM MISSÕES E EVANGELISMO. 3  
Paulo prega em Listra, no Campo de Marte (no Areópago de Atenas) e através de Romanos.
          Paulo prossegue em sua trajetória evangelística em Atenas, conforme lemos os relatos em Atos 17:16-32, onde ali pôde observar o excessivo numero de entidades idolátricas. A cidade estava cheia de ídolos, (aliás, centenas de ídolos) repleta de liberalismo filosófico, congestionada por diferentes ideologias e indagando especulativamente por novas verdades. Em Atenas nos referimos mais ao tipo de idolatria fisica, paupável, concreta, referida mais especificamente ao grande numero de imagens  de “deuses”esculpidas. Atualmente existe uma complexidade e diversidade de idolatrias incomparavelmente maiores do que as que Paulo encontrou em Atenas, que vão visceralmente contra a Palavra de Deus. Para pregar no Areópago e se relacionar com o ambiente de ideias filosóficas que compunham o ambiente cultural da Grécia de seu tempo, Paulo evidentemente se preparou, absorveu ideias filosóficas, admitiu ter um conhecimento prévio das ideologias e filosofias que compunham mais intensamente o ambiente cultural ateniense.(Para maiores insights sobre esse conhecimento paulino acerca da cultura e historia de Atenas, recomendamos o livro de Don Richardson “Eternity in Their Hearts”, Venture Books, California Revised Edition 1984, pp.9-25) Isto quer dizer que para ele, fazia-se necessário conhecer tais ideias. (Alias, existe alguma influencia de filosofias gregas no “pensamentopaulino, assim como existe também tal influencia no Evangelho de João, por exemplo). Mas não era esta a principal preocupação de Paulo. E o livro de Atos, - bem como a epistola aos Romanos, - particularmente registra filosofias, conceitos filosóficos e as ideias que influenciaram o intelectualismo de então, por sua difusão e influencia cultural. Neste período eram conhecidos filósofos, scholars, poetas como Epicuro, Seneca,  Socrates, Platão, Aristóteles, Epimenides e muitos outros. E Paulo foi um homem de seu tempo, tinha uma cultura muito vasta e era contextualizado com seu tempo.  Isto representa em essência o perfeito modelo aplicado à nossa cultura pós-moderna atual, com sua diversidade e complexidade de ideias, e com suas diferentes e mais entranhadas idolatrias, ideologias e suas inovações. E esta complexidade gera sua própria fragilidade. As novas ideias da sociedade ateniense do tempo de Paulo, o paganismo, a idolatria, o intelectualismo diversificado, a violência de então, a diversidade sócio-cultural, e os pecados que caracterizavam e identificavam a plenitude do tempo em que Jesus viveu, assim como se equiparam ao mundo secularizado e pós-cristão vivenciado hoje. O paralelo é estarrecedor. Existe uma identidade dinâmica entre as diferentes épocas, como se a distinção maior entre os dois milieus fosse definida ou viesse á tona pela novidade da pregação da boa nova do Evangelho dentro de uma eclosão de antagonismo. Em outras palavras, a pregação do Evangelho de Jesus por Paulo atingiu um nível de novidade tão antagônico e diferenciado, causando impacto, e que o mesmo acontece hoje, em nossa diversidade e complexidade cultural, onde o Evangelho se apresenta como antagônico e estranho e sua rejeição passa a assumir um caracter, como fenomeno renovador sócio-cultural, criando uma rejeição injustificada, uma ojeriza sócio-cultural. Paulo, na verdade enfrentou um mundo de ideias diferenciadas e de alguma forma tão complexas, da mesma forma como o evangelismo atual, enfrentaria também a mesma complexidade e diferenciação. No entanto, existiu um elemento surpresa em meio à suposta arrogância do fenômeno do intelectualismo cultural ateniense.  Havia uma abertura possibilitada pela própria especulação do intelectualismo, assim como se admite o mesmo dentro do secularismo da sociedade atual. Por mais que eles se apresentem como mundanos e oclusivos, tanto o intelectualismo ateniense, quanto o secularismo da cultura pós-cristã de hoje, admitem uma abertura. E esta abertura é possibilitada pela falência do racionalismo intelectual autônomo (Para saber mais sobre esta falência da mente racional autonoma , veja o livro “Escape from Reason”, de Francis A. Schaeffer) que produz uma válvula de escape, que nasce da sua própria especulação ou da falência da sua especulação, ao admitir como consequência de seu liberalismo, uma abertura, uma possibilidade em direção àquilo que o intelectualismo não encontrou ainda como verdade absoluta. Isto é caracterizado pelo altar ao Deus Desconhecido.  Por mais que o pecado, ou a aversão à verdade mostre seu poder, existe por detrás dele um elemento surpresa caracterizado por sua falência, pela queda do inimigo imposta pelo sacrifício de Jesus. A vitória de Cristo na cruz nos dá a certeza de vitória no evangelismo também. Lucas 10:18 nos diz, “Eu vi Satan caindo do céu como um raio”. Neste ponto o intelectualismo ateniense mostrava sua fragilidade e abria uma brecha em direção à sua especulação. A razão mostrava a sua fragilidade, naquilo que ainda não havia sido pensado. E sempre foi assim na história da evolução do pensamento (da Razão) humana. Em essência o homem só tem “razão” quando ele está conectado com a razão divina, com o Logos de Deus. O idealismo platônico tentou mostrar o mesmo. Além disso o que existe é a trilha criada pela autonomia da mente liberal. O próprio Platão não conseguiu evidenciar aquilo, ou aquele “ser” que pudesse sustentar a evidencia das ideias absolutas, que dessem sustentação a uma real moralidade, o que prova que os gregos estavam profundamente influenciados pelo idealismo platônico.( Cf. “Death in The City”,  Francis A. Schaeffer pg. 106 ). Paulo, no entanto, ao pregar sobre este “deus” desconhecido, admite esta possibilidade e desmorona inteiramente o platonismo (sem no entanto, abolí-lo) ao prosseguir pelo caminho da falência deixada pelo intelectualismo, na direção das verdades absolutas sustentadas pelo Evangelho de Jesus.  E tal visão paulina ao pregar em Atenas, mostra a possibilidade real sempre possível em todos os níveis sociais e históricos, da pregação do Evangelho de Jesus. Paulo assim entendeu porque ele não estava sofrendo o impacto da cultura, o impacto do secularismo de seu tempo, o impacto das filosofias de seu tempo, o impacto das forças satânicas de oposição na história. Paulo estava pensando na direção da evolução do pensamento cristão, que além das ideias possibilitadas pelo conceito filosófico de “deus desconhecido” ele já trazia a resposta do Deus que todos ainda desconheciam. Paulo via a realidade com olhos centrados em JESUS CRISTO.   Se nós temos que enfrentar um fenômeno semelhante em nosso evangelismo hoje, este se chama secularismo, ou satanismo, ou idolatria, ou o que se opõe a ele. Paulo não trazia em seu ser carências especulativas, ausência de uma fé viva, mas uma fé centrada em Cristo e o poder do Espirito que lhe permitia operar milagres. Sabemos também que NADA supera a força e o poder de JESUS no mundo.  O secularismo representa na verdade o caminho oposto sustentado ou almejado pelo intelectualismo ( ou o idealismo) platônico de então e por outras ideias, como as do Epicurismo e do Estoicismo. No secularismo, o homem passa a divergir sua mente das coisas de um mundo além, para as coisas de seu mundo aquém, isto é, limitado pela sua especulação intelectual totalmente desmoronada, descentralizada, egocentrica. De modo geral, o secularismo despreza a religião e as propostas divinas para a história e segue pela trilha do mundanismo, da autonomia racional, da diversidade cultural, e isso com mais ênfase desde o humanismo renascentista, e aí reside sua fragilidade ao desprezar as verdades absolutas. Esta (a autonomia do racionalismo) é a maior carência da fragilidade mostrada pela história da evolução da mente racional, desde Tomas de Aquino (1225-1274). Nós conhecemos o que ocorreu desde tempos imemoriais na Bíblia, quando Adão e Eva decidiram livremente assumir sua própria autonomia racional. A partir daí surgiu o desastre histórico do pecado.  A atualidade do evangelismo paulino passa a existir á medida que Paulo confronta o crescimento do urbanismo, o surgimento das cidades como fenômeno social-cultural e histórico. Não é de se estranhar que Jesus basicamente se utilizava do contexto urbano para pregar e ensinar, e muitas vezes referindo-se a temas do próprio contexto urbano. (Cf. Ray Bakke, “A Theology as Big as The City”, pg 132, 1997). E este é o mesmo modelo de sociedade que o evangelismo atual vai enfrentar no urbanismo da sociedade secular. Assim como o intelectualismo ateniense tem suas raízes históricas, filosóficas e culturais bem profundas, centradas na filosofia, no urbanismo, na idolatria e no liberalismo intelectual, hoje em dia, nosso evangelismo teria que enfrentar bloqueios de natureza também sócio culturais e filosóficos, manipulados pela sociedade secular, que faz a razão humana divergir para uma natureza essencialmente materialista e até certo nível,  pragmática. Paulo viu a mente divina abrindo caminho em meio a todo esse emaranhado intelectual, e seguiu por ela, pelas possibilidades reais propostas pela mente divina. Paulo viu também a fragilidade do intelectualismo não apenas ateniense, conforme admitiu em 1Co 1:20-23, ao parafrasear Isaías 29:14, onde critica a insuficiência da mente do sábio desse mundo, ou dos scholars desse mundo ( quando se refere aos doutores da lei de seu tempo ), por causa de sua concepção errônea a respeito dos planos de Deus e de Sua revelação em Cristo. E neste ponto Paulo assume inteiramente uma adesão coerente ao Antigo Testamento bem como ao Novo, ainda em formação, que assume uma problemática diversificada, mais atual, em consonância com a sociedade do mundo secularizado. O que se destaca no secularismo são os paradoxos da razão humana, a autonomia da mente humana, buscando alternativas meramente infrutíferas e antagônicas. Razão pela qual tanto o intelectualismo ateniense, quanto o secularismo da sociedade pós-cristã atual, admitem sua fragilidade ao se afastar das verdades propostas pelo Evangelho, onde certamente não existe falência. O que motivava Paulo não era seguir pela carência (ou falência) de uma mente racional centrada no intelectualismo, mas as verdades espirituais mantidas e centradas no Evangelho de Jesus. Paulo não tinha medo do diabo porque o via como caído, derrotado por Jesus. Paulo estava profundamente inspirado pelos absolutos da mente divina, e não pelas limitações da mente racional autônoma secularizada, intelectualizada e fracassada em Atenas como em qualquer outra parte do mundo.
De modo geral, o que aconteceu em Atenas, no Campo de Marte, - e aqui nós nos referimos mais especificamente ao livro de Atos, - foi que Paulo se confrontou essencialmente com o Homem Sem a Bíblia, o homem intelectualizado, e pra esse homem Paulo pregou com autoridade e com destemor, mesmo enfrentando depois a opressão dos judeus, ou das classes intelectuais radicais da sociedade intelectual ateniense. E é este o cenário do ambiente secular atual que nós igreja IBVN enfrentamos hoje aqui em Massachusetts, numa região onde existe um alto nível de intelectualismo, de ideologias e pecados também. Nós perguntaríamos então: É difícil fazer evangelismo hoje aqui em Boston, nos Estados Unidos da América? A resposta é a seguinte: SIM é difícil, mas não é impossível, dadas as razões apresentadas acima.  Paulo conhecia profundamente o Evangelho, como o maior de todos os Teólogos e missionário do Novo Testamento, assim como conhecia também as filosofias e ideologias de seu tempo, e delas não tinha medo, mas destemor e fé para enfrentar o mundo secularizado de então, com a força do Espírito que vem do alto, da pessoa de Jesus Cristo. Paulo também não estava apenas à mercê do “elemento surpresa” em sua aproximação evangelística. Isso equivale dizer que Paulo tinha certo conhecimento prévio da diversidade cultural de seu tempo o que veio favorecer sua aproximação. Prova desse conhecimento é a alusão que ele, Paulo, faz ao poeta Epimenides, referida por Lucas no livro de Atos, capítulo 17:15-34. Isso equivale dizer também que é necessário se preparar convenientemente rumo a um estudo aprofundado do Evangelho de Jesus, ao se propor uma aproximação ao Evangelismo, sem desconhecer as nuances da sociedade cultural, urbana e secularizada de nosso tempo, sem desprezar o conhecimento das tendências sociais, culturais, filosóficas e históricas que regem nosso próprio contexto urbano. Pode-se mesmo afirmar que parte do sucesso alcançado por Paulo em seu Evangelismo se deve á obediência desses fatores, sua indestrutível fidelidade à Palavra, sua total credulidade á Palavra de Deus, seu amor ao evangelismo e á salvação de almas, sua entrega e trabalho incansável à causa do evangelismo e seu amor incondicional à pessoa de Jesus Cristo.
A abertura que existe na cultura atual hoje, como possibilidade real além de sua falência é definida essencialmente pelo secularismo materialista e pelo intelectualismo que caracteriza a sociedade americana. O Deus Desconhecido de então, é o Deus ausente na mente do homem sem a Bíblia dos dias atuais. Para os atenienses Paulo advogava um “deus estrangeiro” da mesma forma como o Deus verdadeiro vai se mostrar estranho àqueles que ouvem pela primeira vez ao evangelismo dos dias atuais. E o texto de Atos 17:18 nos diz que os atenienses se referiam “a um estranho deus”, porque Paulo pregava  as boas novas sobre Jesus e a ressurreição, ideias totalmente estranhas aos atenienses, importadas da Galiléia. Paulo se utilizou da falência do intelectualismo de então, que não possuía elementos para definir que “deus estranho” era aquele, para lançar a novidade das ideias “estranhas” do Evangelho de Jesus. Existia portanto, uma abertura proposta pelo intelectualismo ateniense, possibilitada pelo liberalismo intelectual de então, ou pelo humanismo filosófico dos intelectuais gregos. Paulo saiu vitorioso em seu evangelismo, porque ele não pregava sozinho. O Espirito Santo o acompanhava. E Jesus modela novas alternativas históricas, para abrir caminho à pregação de Sua Boa Nova, como parte das propostas originais de Deus para a salvação da humanidade, em Cristo.
O que o Apóstolo Paulo nos ensina em Romanos relativamente a seu evangelismo ao Homem sem a Biblia, começa logo no princípio dessa epístola, ainda no capítulo 1, verso 18, extendendo-se até ao capítulo 2, verso 16. Conforme Francis A. Schaeffer, (Cf. Death in The City pg. 105) aí neste ponto Paulo, nos dá definitivamente o “método da pregação para a nossa geração, porque nossa geração é amplamente formada de homens sem a Bíblia.”  
Em Romanos 1:18 Deus nos dá o método de pregação para a nossa geração atual (pós-moderna, pós-cristã, neo-ateísta, neo-liberal, como queiram) quando Paulo inicia sua pregação sem mencionar referencias ao Antigo Testamento. Porque na verdade o “homem sem a Biblia” não conhece as Escrituras e Paulo evita mencionar referências do AT.  Em Romanos, - dirigindo-se  aos habitantes de Roma sem ter podido visita-la - 1:18-19 ele assim diz: “The wrath of God is being revealed from heaven against all the godlessness and wickedness of people, who suppress the truth by their wickedness, since what may be known about God is plain to them, because God has made it plain to them.”  Sem dúvida esta é uma revelação profética de Paulo aos Romanos. A tradução em Português ficaria assim: “A ira de Deus está sendo revelada dos céus contra toda infidelidade e iniquidade dos povos (ou das pessoas), que suprimem a verdade por sua iniquidade, desde que o que pôde ser conhecido sobre Deus é conhecido por eles, porque Deus o fez revelado a eles.” Essa profecia paulina é muito atual. O texto em Inglês é mais completo e o texto da King James version é mais completo ainda. Porque o texto da NIV fala “hinder the truth” ou “suppress the truth”, e o texto da KJV fala “ hold the truth”. Há uma sutil diferença nos dois verbos em Inglês. O texto da KJV fala que mesmo sem conhecer a Biblia, “o homem sem a Biblia” mantém, sustenta, esconde, segura em seu coração, ou ele esconde a verdade em injustiça dentro de seu coração. E por este motivo ele está sujeito à ira de Deus, por saber que Deus existe, de alguma forma, ou por rejeitá-Lo, ou por negá-Lo, e portanto, por sustentar esta verdade na sua injustiça. Observa-se no entanto, que Paulo começa pregando sobre A IRA DE DEUS aos que não conhecem a Palavra. Francis A. Schaeffer observa que Paulo não inicia seu evangelismo pregando salvação. Mas pregando a ira de Deus. ( Cf. Francis A. Schaeffer “Death in the City”pg.106 ). Vemos nestes dois versos de Romanos uma das primeiras características do evangelismo paulino, qual seja, começar a pregar sobre a IRA DE DEUS ao Homem sem a Biblia. Isso revela a primeira característica do método paulino de evangelismo.

POR QUE O MÉTODO PAULINO DE EVANGELISMO COMEÇA A PREGAR SOBRE A IRA DE DEUS? (veja no artigo 4 desta serie).

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