PROCESSOS QUE ENVOLVEM MISSÕES E EVANGELISMO. 3
Paulo prega em Listra, no Campo de Marte (no Areópago de Atenas) e através de Romanos.
Paulo prega em Listra, no Campo de Marte (no Areópago de Atenas) e através de Romanos.
Paulo prossegue em sua trajetória evangelística
em Atenas, conforme lemos os relatos em Atos 17:16-32, onde ali pôde observar o
excessivo numero de entidades idolátricas. A cidade estava cheia de ídolos,
(aliás, centenas de ídolos) repleta de liberalismo filosófico, congestionada
por diferentes ideologias e indagando especulativamente por novas verdades. Em
Atenas nos referimos mais ao tipo de idolatria fisica, paupável, concreta,
referida mais especificamente ao grande numero de imagens de “deuses”esculpidas. Atualmente existe uma
complexidade e diversidade de idolatrias incomparavelmente maiores do que as que
Paulo encontrou em Atenas, que vão visceralmente contra a Palavra de Deus. Para
pregar no Areópago e se relacionar com o ambiente de ideias filosóficas que
compunham o ambiente cultural da Grécia de seu tempo, Paulo evidentemente se
preparou, absorveu ideias filosóficas, admitiu ter um conhecimento prévio das
ideologias e filosofias que compunham mais intensamente o ambiente cultural
ateniense.(Para maiores insights sobre
esse conhecimento paulino acerca da
cultura e historia de Atenas, recomendamos o livro de Don Richardson “Eternity
in Their Hearts”, Venture Books,
California Revised Edition 1984, pp.9-25) Isto quer dizer que para ele,
fazia-se necessário conhecer tais ideias. (Alias,
existe alguma influencia de filosofias gregas no “pensamento” paulino, assim como existe também tal
influencia no Evangelho de João, por exemplo). Mas não era esta a principal
preocupação de Paulo. E o livro de Atos, - bem como a epistola aos Romanos, - particularmente registra filosofias,
conceitos filosóficos e as ideias que influenciaram o intelectualismo de então,
por sua difusão e influencia cultural. Neste período eram conhecidos filósofos,
scholars, poetas como Epicuro, Seneca,
Socrates, Platão, Aristóteles, Epimenides e muitos outros. E Paulo foi um homem de
seu tempo, tinha uma cultura muito vasta e era contextualizado com seu tempo. Isto representa em essência o perfeito modelo
aplicado à nossa cultura pós-moderna atual, com sua diversidade e complexidade
de ideias, e com suas diferentes e mais entranhadas idolatrias, ideologias e
suas inovações. E esta complexidade gera sua própria fragilidade. As novas
ideias da sociedade ateniense do tempo de Paulo, o paganismo, a idolatria, o
intelectualismo diversificado, a violência de então, a diversidade sócio-cultural,
e os pecados que caracterizavam e identificavam a plenitude do tempo em que
Jesus viveu, assim como se equiparam ao mundo secularizado e pós-cristão
vivenciado hoje. O paralelo é estarrecedor. Existe uma identidade dinâmica
entre as diferentes épocas, como se a distinção maior entre os dois milieus
fosse definida ou viesse á tona pela novidade da pregação da boa nova do
Evangelho dentro de uma eclosão de antagonismo. Em outras palavras, a pregação
do Evangelho de Jesus por Paulo atingiu um nível de novidade tão antagônico e
diferenciado, causando impacto, e que o mesmo acontece hoje, em nossa
diversidade e complexidade cultural, onde o Evangelho se apresenta como
antagônico e estranho e sua rejeição passa a assumir um caracter, como fenomeno
renovador sócio-cultural, criando uma rejeição injustificada, uma ojeriza
sócio-cultural. Paulo, na verdade enfrentou um mundo de ideias diferenciadas e
de alguma forma tão complexas, da mesma forma como o evangelismo atual,
enfrentaria também a mesma complexidade e diferenciação. No entanto, existiu um
elemento surpresa em meio à suposta arrogância do fenômeno do intelectualismo cultural
ateniense. Havia uma abertura
possibilitada pela própria especulação do intelectualismo, assim como se admite
o mesmo dentro do secularismo da sociedade atual. Por mais que eles se apresentem
como mundanos e oclusivos, tanto o intelectualismo ateniense, quanto o
secularismo da cultura pós-cristã de hoje, admitem uma abertura. E esta
abertura é possibilitada pela falência do racionalismo intelectual autônomo (Para saber mais sobre esta falência da
mente racional autonoma , veja o livro
“Escape from Reason”, de Francis A. Schaeffer) que produz uma válvula de
escape, que nasce da sua própria especulação ou da falência da sua especulação,
ao admitir como consequência de seu liberalismo, uma abertura, uma
possibilidade em direção àquilo que o intelectualismo não encontrou ainda como
verdade absoluta. Isto é caracterizado pelo
altar ao Deus Desconhecido. Por mais
que o pecado, ou a aversão à verdade mostre seu poder, existe por detrás dele
um elemento surpresa caracterizado por sua falência, pela queda do inimigo
imposta pelo sacrifício de Jesus. A vitória de Cristo na cruz nos dá a certeza
de vitória no evangelismo também. Lucas 10:18 nos diz, “Eu vi Satan caindo do céu como um raio”. Neste ponto o
intelectualismo ateniense mostrava sua fragilidade e abria uma brecha em
direção à sua especulação. A razão mostrava a sua fragilidade, naquilo que
ainda não havia sido pensado. E sempre foi assim na história da evolução do
pensamento (da Razão) humana. Em essência o homem só tem “razão” quando ele
está conectado com a razão divina, com o Logos
de Deus. O idealismo platônico tentou mostrar o mesmo. Além disso o que
existe é a trilha criada pela autonomia da mente liberal. O próprio Platão não
conseguiu evidenciar aquilo, ou aquele “ser” que pudesse sustentar a evidencia
das ideias absolutas, que dessem sustentação a uma real moralidade, o que prova
que os gregos estavam profundamente influenciados pelo idealismo platônico.( Cf.
“Death in The City”, Francis A.
Schaeffer pg. 106 ). Paulo, no entanto, ao pregar sobre este “deus”
desconhecido, admite esta possibilidade e desmorona inteiramente o platonismo
(sem no entanto, abolí-lo) ao prosseguir pelo caminho da falência deixada pelo
intelectualismo, na direção das verdades absolutas sustentadas pelo Evangelho
de Jesus. E tal visão paulina ao pregar
em Atenas, mostra a possibilidade real sempre possível em todos os níveis
sociais e históricos, da pregação do Evangelho de Jesus. Paulo assim entendeu
porque ele não estava sofrendo o impacto da cultura, o impacto do secularismo
de seu tempo, o impacto das filosofias de seu tempo, o impacto das forças
satânicas de oposição na história. Paulo estava pensando na direção da evolução
do pensamento cristão, que além das ideias possibilitadas pelo conceito
filosófico de “deus desconhecido” ele já trazia a resposta do Deus que todos
ainda desconheciam. Paulo via a realidade com olhos centrados em JESUS CRISTO. Se nós
temos que enfrentar um fenômeno semelhante em nosso evangelismo hoje, este se
chama secularismo, ou satanismo, ou idolatria, ou o que se opõe a ele. Paulo
não trazia em seu ser carências especulativas, ausência de uma fé viva, mas uma
fé centrada em Cristo e o poder do Espirito que lhe permitia operar milagres.
Sabemos também que NADA supera a força e o poder de JESUS no mundo. O secularismo representa na verdade o caminho
oposto sustentado ou almejado pelo intelectualismo ( ou o idealismo) platônico
de então e por outras ideias, como as do Epicurismo e do Estoicismo. No
secularismo, o homem passa a divergir sua mente das coisas de um mundo além,
para as coisas de seu mundo aquém, isto é, limitado pela sua especulação
intelectual totalmente desmoronada, descentralizada, egocentrica. De modo
geral, o secularismo despreza a religião e as propostas divinas para a história
e segue pela trilha do mundanismo, da autonomia racional, da diversidade
cultural, e isso com mais ênfase desde o humanismo renascentista, e aí reside
sua fragilidade ao desprezar as verdades absolutas. Esta (a autonomia do
racionalismo) é a maior carência da fragilidade mostrada pela história da
evolução da mente racional, desde Tomas de Aquino (1225-1274). Nós conhecemos o
que ocorreu desde tempos imemoriais na Bíblia, quando Adão e Eva decidiram
livremente assumir sua própria autonomia racional. A partir daí surgiu o
desastre histórico do pecado. A
atualidade do evangelismo paulino passa a existir á medida que Paulo confronta
o crescimento do urbanismo, o surgimento das cidades como fenômeno social-cultural
e histórico. Não é de se estranhar que Jesus basicamente se utilizava do
contexto urbano para pregar e ensinar, e muitas vezes referindo-se a temas do
próprio contexto urbano. (Cf. Ray
Bakke, “A Theology as Big as The City”, pg 132, 1997). E este é o mesmo modelo de sociedade que o
evangelismo atual vai enfrentar no urbanismo da sociedade secular. Assim como o
intelectualismo ateniense tem suas raízes históricas, filosóficas e culturais
bem profundas, centradas na filosofia, no urbanismo, na idolatria e no
liberalismo intelectual, hoje em dia, nosso evangelismo teria que enfrentar
bloqueios de natureza também sócio culturais e filosóficos, manipulados pela
sociedade secular, que faz a razão humana divergir para uma natureza
essencialmente materialista e até certo nível, pragmática. Paulo viu a mente divina abrindo
caminho em meio a todo esse emaranhado intelectual, e seguiu por ela, pelas
possibilidades reais propostas pela mente divina. Paulo viu também a
fragilidade do intelectualismo não apenas ateniense, conforme admitiu em 1Co
1:20-23, ao parafrasear Isaías 29:14, onde critica a insuficiência da mente do
sábio desse mundo, ou dos scholars desse mundo ( quando se refere aos doutores
da lei de seu tempo ), por causa de sua concepção errônea a respeito dos planos
de Deus e de Sua revelação em Cristo. E neste ponto Paulo assume inteiramente
uma adesão coerente ao Antigo Testamento bem como ao Novo, ainda em formação,
que assume uma problemática diversificada, mais atual, em consonância com a
sociedade do mundo secularizado. O que se destaca no secularismo são os
paradoxos da razão humana, a autonomia da mente humana, buscando alternativas
meramente infrutíferas e antagônicas. Razão pela qual tanto o intelectualismo
ateniense, quanto o secularismo da sociedade pós-cristã atual, admitem sua
fragilidade ao se afastar das verdades propostas pelo Evangelho, onde
certamente não existe falência. O que motivava Paulo não era seguir pela
carência (ou falência) de uma mente racional centrada no intelectualismo, mas
as verdades espirituais mantidas e centradas no Evangelho de Jesus. Paulo não
tinha medo do diabo porque o via como caído, derrotado por Jesus. Paulo estava
profundamente inspirado pelos absolutos da mente divina, e não pelas limitações
da mente racional autônoma secularizada, intelectualizada e fracassada em Atenas
como em qualquer outra parte do mundo.
De modo geral, o que aconteceu em Atenas, no
Campo de Marte, - e aqui nós nos referimos mais especificamente ao livro de
Atos, - foi que Paulo se confrontou essencialmente com o Homem Sem a Bíblia, o
homem intelectualizado, e pra esse homem Paulo pregou com autoridade e com destemor,
mesmo enfrentando depois a opressão dos judeus, ou das classes intelectuais
radicais da sociedade intelectual ateniense. E é este o cenário do ambiente
secular atual que nós igreja IBVN enfrentamos hoje aqui em Massachusetts, numa
região onde existe um alto nível de intelectualismo, de ideologias e pecados
também. Nós perguntaríamos então: É difícil fazer evangelismo hoje aqui em
Boston, nos Estados Unidos da América? A resposta é a seguinte: SIM é difícil, mas não é impossível, dadas
as razões apresentadas acima. Paulo
conhecia profundamente o Evangelho, como o maior de todos os Teólogos e
missionário do Novo Testamento, assim como conhecia também as filosofias e
ideologias de seu tempo, e delas não tinha medo, mas destemor e fé para
enfrentar o mundo secularizado de então, com a força do Espírito que vem do
alto, da pessoa de Jesus Cristo. Paulo também não estava apenas à mercê do “elemento
surpresa” em sua aproximação evangelística. Isso equivale dizer que Paulo tinha
certo conhecimento prévio da diversidade cultural de seu tempo o que veio
favorecer sua aproximação. Prova desse conhecimento é a alusão que ele, Paulo,
faz ao poeta Epimenides, referida por Lucas no livro de Atos, capítulo
17:15-34. Isso equivale dizer também que é necessário se preparar
convenientemente rumo a um estudo aprofundado do Evangelho de Jesus, ao se
propor uma aproximação ao Evangelismo, sem desconhecer as nuances da sociedade
cultural, urbana e secularizada de nosso tempo, sem desprezar o conhecimento
das tendências sociais, culturais, filosóficas e históricas que regem nosso
próprio contexto urbano. Pode-se mesmo afirmar que parte do sucesso alcançado
por Paulo em seu Evangelismo se deve á obediência desses fatores, sua indestrutível
fidelidade à Palavra, sua total credulidade á Palavra de Deus, seu amor ao
evangelismo e á salvação de almas, sua entrega e trabalho incansável à causa do
evangelismo e seu amor incondicional à pessoa de Jesus Cristo.
A abertura que existe na cultura atual hoje,
como possibilidade real além de sua falência é definida essencialmente pelo
secularismo materialista e pelo intelectualismo que caracteriza a sociedade
americana. O Deus Desconhecido de então, é o Deus ausente na mente do homem sem
a Bíblia dos dias atuais. Para os atenienses Paulo advogava um “deus
estrangeiro” da mesma forma como o Deus verdadeiro vai se mostrar estranho àqueles
que ouvem pela primeira vez ao evangelismo dos dias atuais. E o texto de Atos
17:18 nos diz que os atenienses se referiam “a um estranho deus”, porque Paulo
pregava as boas novas sobre Jesus e a
ressurreição, ideias totalmente estranhas aos atenienses, importadas da
Galiléia. Paulo se utilizou da falência do intelectualismo de então, que não
possuía elementos para definir que “deus estranho” era aquele, para lançar a
novidade das ideias “estranhas” do Evangelho de Jesus. Existia portanto, uma
abertura proposta pelo intelectualismo ateniense, possibilitada pelo
liberalismo intelectual de então, ou pelo humanismo filosófico dos intelectuais
gregos. Paulo saiu vitorioso em seu evangelismo, porque ele não pregava
sozinho. O Espirito Santo o acompanhava. E Jesus modela novas alternativas
históricas, para abrir caminho à pregação de Sua Boa Nova, como parte das
propostas originais de Deus para a salvação da humanidade, em Cristo.
O que o Apóstolo Paulo nos ensina em Romanos
relativamente a seu evangelismo ao Homem sem a Biblia, começa logo no princípio
dessa epístola, ainda no capítulo 1, verso 18, extendendo-se até ao capítulo 2,
verso 16. Conforme Francis A. Schaeffer, (Cf. Death in The City pg. 105) aí
neste ponto Paulo, nos dá definitivamente o “método da pregação para a nossa
geração, porque nossa geração é amplamente formada de homens sem a Bíblia.”
Em Romanos 1:18 Deus nos dá o método de
pregação para a nossa geração atual (pós-moderna, pós-cristã, neo-ateísta,
neo-liberal, como queiram) quando Paulo inicia sua pregação sem mencionar
referencias ao Antigo Testamento. Porque na verdade o “homem sem a Biblia” não
conhece as Escrituras e Paulo evita mencionar referências do AT. Em Romanos, - dirigindo-se aos habitantes de Roma sem ter podido
visita-la - 1:18-19 ele assim diz: “The
wrath of God is being revealed from heaven against all the godlessness and
wickedness of people, who suppress the truth by their wickedness, since what
may be known about God is plain to them, because God has made it plain to
them.” Sem dúvida esta é uma revelação profética de
Paulo aos Romanos. A tradução em Português ficaria assim: “A ira de Deus está
sendo revelada dos céus contra toda infidelidade e iniquidade dos povos (ou das
pessoas), que suprimem a verdade por sua iniquidade, desde que o que pôde ser
conhecido sobre Deus é conhecido por eles, porque Deus o fez revelado a eles.”
Essa profecia paulina é muito atual. O texto em Inglês é mais completo e o
texto da King James version é mais completo ainda. Porque o texto da NIV fala
“hinder the truth” ou “suppress the truth”, e o texto da KJV fala “ hold the
truth”. Há uma sutil diferença nos dois verbos em Inglês. O texto da KJV fala
que mesmo sem conhecer a Biblia, “o homem sem a Biblia” mantém, sustenta,
esconde, segura em seu coração, ou ele esconde a verdade em injustiça dentro de
seu coração. E por este motivo ele está sujeito à ira de Deus, por saber que
Deus existe, de alguma forma, ou por rejeitá-Lo, ou por negá-Lo, e portanto,
por sustentar esta verdade na sua injustiça. Observa-se no entanto, que Paulo
começa pregando sobre A IRA DE DEUS aos que não conhecem a Palavra. Francis A.
Schaeffer observa que Paulo não inicia seu evangelismo pregando salvação. Mas
pregando a ira de Deus. ( Cf. Francis A. Schaeffer “Death in the
City”pg.106 ). Vemos nestes
dois versos de Romanos uma das primeiras características do evangelismo paulino,
qual seja, começar a pregar sobre a IRA DE DEUS ao Homem sem a Biblia. Isso
revela a primeira característica do método paulino de evangelismo.
POR QUE O MÉTODO
PAULINO DE EVANGELISMO COMEÇA A PREGAR SOBRE A IRA DE DEUS? (veja no artigo 4 desta serie).
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