A APOTEOSE DE JAY
JOSE EDUARDO SABAUTE.
ROMANCE.
Esta estória aconteceu parcialmente fora dos limites do
espaço terrestre, dentro de uma dimensão espacial exterior, chamada sideral, e
para além dela evoluiu naturalmente até que os elementos que a compõem
originalmente passaram a figurar dentro da realidade a que estamos acostumados
a chamar de realidade histórica terrestre. Não podemos precisar exatamente quando
e quanto tempo foi necessário para que uma coisa evoluisse para a outra. O que
podemos afirmar com alguma precisão, é que originalmente tudo de fato aconteceu
num tempo passado muitissimo remoto, onde a idéia dos relatos foi transportada
para a realidade presente apenas por intuição e meras especulações imaginárias,
através da criação de relatos da investigação intelectual e imaginativa. Mas, o
que nos parece impossivel de ser narrado, tornou-se hipoteticamente plausivel,
e digno de credibilidade, mesmo porque, pela ausencia de uma veracidade maior,
ninguém até hoje chegou a formular outra narrativa mais verídica. Por falta de
elementos de narrativa histórica, não existiu até o presente momento, quem a
pudesse refutar ou contesta-la com provas documentadas, e isto nos permitiu
escrever um certo numero de paginas, sobre o que achamos que deveriamos
escrever e narrar aquilo que somente a imaginação criadora nos permitiria
narrar, até que algum dia num futuro também muitissimo remoto, possamos
desvendar toda a verdade e dar ao assunto a credibilidade que finalmente
merece. Apesar de os fatos terem
acontecido realisticamente, tramas, elementos e personagens foram recriados
pela imaginação criadora do autor, movido e motivado pela investigação da
verdade e pelos ditames de seu carater intelectual especulativo.
Adentremos, pois, neste mundo da imaginação,
onde a realidade a principio se aparenta meramente ficticia, onde os
personagens são realisticamente irreais, onde o que pode não-ser assume ares de
mera possibilidade real, em que os fatos foram no passado simplesmente intangiveis,
e personagens tidos por reais passam a figurar como estranhamente misteriosos.
1
Era uma vez um tempo num passado
muitissimo remoto, no mais alto dos céus, no sétimo céu, diríamos, em que um
ser supremo de grande magnitude e poder criativo, posteriormente denominado
simplesmente de “Jay”, estava ocupado pensando nos projetos de sua ilimitada
imaginação criadora. Arrazoava consigo mesmo a respeito do que estava para ser
criado, planejando materializar tudo em um futuro bem próximo. Certamente não
saberiamos precisar quando isso na verdade iria ocorrer. Sabemos, no entanto,
que em sua companhia vivia uma
infinidade de criaturas denominadas anjos, vivendo com Jay em perfeita
harmonia, como seus submissos servidores mensageiros e adoradores, envoltos por
uma perfeita harmonia cósmica, em que a obediencia mutua observava os diversos
escalões hierárquicos. Assim, anjos se
submetiam a arcanjos e estes eram submissos a querubins e serafins, e todos
obedientemente eram regidos por Jay em perfeita e harmoniosa interação, quando
o céu estava no centro do Universo ainda não inteiramente criado e explorado.
Não existiam divergencias sócio-politicas que viessem a desestabilizar a
unicidade da teocracia jaystica. Jay era e continuaria a ser um soberano unico,
inabalavel. Isto queria dizer, não havia diferenciação discriminatória alguma
que viesse criar separatismo entre os seres celestes que os pudesse presdispor
uns contra os outros e todos contra Jay, nem tampouco divergencias pessoais que
os lançassem em disturbios conspiratórios. Jay era o senhor absoluto e os
anjos, arcanjos, querubins e serafins seus servos incondicionais e livremente
atados á condição de criaturas serviçais interrelacionadas a Jay. E tal
harmonia era tão absolutamente equilibrada que a engrenagem do céu se movia
como máquina perfeita, num unissono silencioso e claro, cuja transparencia era
a própria identidade espiritual de seu unico e explendido arquiteto, que não
media esforços para tornar a plenitude da vida celeste ainda mais aplasível aos
seus súditos nos diversos escalões existentes. Também não se podia conceber que
houvesse coisa alguma que pudesse abalar a perfeita harmonia reinante, entre os seres definidos como criaturas e os
que detinham o privilégio da criação. Então, bilhões e bilhões de anos se
passaram, digamos trilhões, - o que ainda é pouco – sem que absolutamente nada
importunasse a ordem harmonica estabelecida previamente por Jay. A palavra Jay
era na verdade uma sigla que escondia a existencia de tres seres distintos:
Javiel, Agapé e Yasmim, que eram tres, mas que agiam como se fossem um. Os anjos viviam como as mais capazes de todas
as criaturas, os mais afortunados, perfeitos, poderosos e felizes. A julgar pela absoluta paz reinante em seu
meio, não se poderia admitir que sua simplicidade e pureza fosse de tal nivel
esmerados e a tal ponto integros que pudessem produzir os fatos e
acontecimentos dessa magnitude e complexidade. Tais fatos serão a partir de
agora narrados com profundidade e profusão a todos os que deles queiram ter
conhecimento e possam adentrar voluntariamente nas nuances de seu unico mundo.
Certo dia, porém, em meio ao etério
que tudo era, um ser criado chamado Serafim Lúcifer, conhecido por seu cargo
como chefe geral do cerimonial de louvores a Jay, dotado de extrema sabedoria e distinto poder junto aos
seus semelhantes, viu-se de alguma forma enfastiado com tudo o que ele próprio
presenciava no dia-a-dia celeste. Propos-se a si mesmo tentar o que ninguém
jamais havia tentado anteriormente. Como ideal individualisado, planejou
crescer indevidamente na tentativa de se assemelhar ao trono de Jay, tramando usurpar-lhe
o poder e se assentar imerecidamente ao seu lado. Essencialmente o que ocorreu
foi que, esta situação levou o serafim de elevada graduação na hierarquia
celeste, a crer que ele, Serafim Lucifer, poderia ser tido por um ser também
adorado por parte do contigente de anjos que adoravam a Jay diariamente, por
concluir que ao seu espirito angelical nada mais e nenhuma outra ansia e
aspiração haveria para ser alcançada além de se posicionar ao lado de Jay e
compartilhar com ele de sua glória. Esta deveria ser, pois, sua unica e mais
radical aspiração, desde que todas as demais aspirações e experiencias já
haviam sido logradas e realizadas durante o tempo de sua existencia até então no céu. Algo novo deveria ser tentado. Sua natureza
inerente como espirito criado não poderia separá-lo de seu relacionamento com
Jay, porque dEle dependia diretamente. Mas sua absoluta liberdade poderia no
entanto, criar-lhe condições intelectuais para que, por si mesmo, se se
separasse de Jay, se transformasse
projetando-se em diferentes tipos de espiritos, que eram na verdade suas
aspirações mais intimas. Eram-lhe tantos os adoradores que Serafim Lucifer creu
ser possivel, ao pensar consigo mesmo, num dia qualquer extremamente longo no
céu, na paisagem etérea do universo, junto ao séquito de seus subordinados
diretos, que também ele poderia separar para si alguns milhões de anjos que o
adorassem incondicionalmente. Dadas as suas observações gerais acerca da
população dos céus, pode perceber com evidente clareza, que o que mais atraia
os anjos á pura adoração era o fato de que Jay tinha uma beleza
extraordinariamente grande, e esta era a razão principal pela qual todos eles
eram atraídos por Jay. Além de que,
obviamente, tinha outros atributos e virtudes de ofuscante dimensão que o pobre
serafim sequer pensou em considerar. Suas conclusões o levaram a crer que
devido á sua particular beleza e formosura, ele poderia ser também objeto de
veneração e contemplação. Nisso apostou irrestritamente. Sabia da existencia celeste de milhares de
milhões de anjos de toda espécie, dentro das nove ordens angélicas gravitando o
trono de Jay, formando os corais de louvores a Ele. Eram tres diferentes
tríades de tres diferentes níveis: o nivel mais elevado do primeiro escalão,
com os Serafins, os Querubins e os Tronos. O nível intermediário com as
Dominações, as Virtudes e os Poderes, e finalmente, o nivel inferior com os
Principados, os Arcanjos e os Anjos. Todos mantinham distintamente poderes
extremamente grandes e superdimenssionados, se comparados aos poderes dos seres
humanos, que Jay certamente criaria num futuro bem próximo.
Serafim
Lucifer, após ter maquinado solitariamente a estratégia de sua conspiração
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