PROCESSOS QUE
ENVOLVEM MISSÕES E EVANGELISMO - 4
POR QUE O MÉTODO PAULINO DE EVANGELISMO COMEÇA
A PREGAR A IRA DE DEUS SOBRE OS HOMENS?
É
interessante se falar sobre esta perspectiva paulina. Tal abordagem no livro de
Romanos cap. 1, verso 18-32, é primeiramente dirigida aos gentios, os
principais recipientes para os quais Paulo escreveu a carta aos Romanos,
evidentemente à Igreja Cristã em Roma. Daí surge logo uma série de perguntas
relativas à sua metodologia: por que Paulo não teve uma outra abordagem, além
dessa de, num sentido, amedrontar seus ouvintes ou os recipientes da mensagem
do Evangelho? Por que Paulo agiu pesado com os gentios , sabendo que eles eram
infantes na fé e que, portanto, poderiam se esquivar de ouvir a Mensagem do
Evangelho de Jesus? Por que Paulo preferiu administrar uma dosagem mais sólida
de alimentos, já no início, sabendo que eram ignorantes e inocentes na fé? Estas e outras perguntas são suscitadas ao lado de uma observação muito interessante: "Você não pode ser chamado de evangelista se o seu propósito não é o de levar primeiramente o Evangelho, mas pelo contrário, se preocupar em ser amigo ou fazer amizade com o recipiente de sua mensagem e DEPOIS então, pregar o evangelho. Isto não era como os Apóstolos conduziam seu evangelismo, e nem como ensinavam suas igrejas!"(Let us reason ministries).Nós nos referimos aqui ao método paulino de evangelismo. Essas e outras perguntas são claramente suscitadas em nosso estudo, desde o
início, pelo milieu, ou pelo contexto sócio-histórico-filosófico e cultural da
Atenas, - e também pelo contexto teológico - ou de Roma do tempo de Paulo. Apesar de todo esse contexto, os atenienses
sabiam que Paulo pregava sobre Jesus e sobre a ressurreição dos mortos, como
vemos em Atos 17:18, ideias novas para uma Atenas afundada em idolatria e
falsidade.(Cf. Romanos 1:22) Os gentios nem sempre o sabiam. Paulo abriu caminho dentro desse
emaranhado de inverdades que eram as doutrinas filosóficas de seu tempo no
Areópago, e na sua pregação da verdade do Evangelho aos gentios. O espírito de
Paulo além de destemido era o Espírito da Verdade em seu coração fazendo-o
enfrentar com destemor o absurdo do racionalismo humano ateniense ou romano, ou
o que quer que fosse, porque Paulo pregaria a verdade em qualquer
circunstância. Como Jesus Cristo enfrentou e carregou o mal do universo sobre
seus ombros, Paulo (que não é maior do que Jesus), enfrentou o mal dos romanos,
ou dos gregos ou dos judeus, pregando a palavra da verdade, sabendo que sua
pregação era a força do Evangelho contra um mal localizado, reduzido,
simplificado por aquele momento histórico no contexto urbano. E isto é
evangelismo, pregar a boa nova do Reino da Verdade. Para Paulo o que importava
era a Verdade, a fidelidade a Jesus Cristo, seu compromisso com a Verdade. E essa era a motivação maior de seu
evangelismo, enfrentar o mal com a Verdade, não o “respeito” à cultura humana
representada por um segmento dessa cultura em Roma, como em Atenas. Paulo
jamais afirmou em suas palavras que estivera ali, no contexto urbano de Atenas,
para lhes pedir desculpas por estar pregando a verdade. Alguém percebeu isso? E
por este motivo, pregar sobre a Ira de Deus contra os gentios, ou a plateia de
intelectuais do Areópago, não era uma ”invirtude”, ou um desrespeito ao grego
ou ao gentio, mas um compromisso real, legítimo, com a verdade. Foi por este
motivo que Paulo começou a falar sobre a Ira de Deus aos seus recipientes. Neste
sentido a palavra evangelismo significa levar a palavra da Verdade àqueles que a
querem ouvir, e não respeitar os limites da cultura humana diante daqueles que
poderiam ouví-la. Custe o que custar. “E conhecereis a Verdade e a Verdade vos
libertará” João diz no cap. 8 verso 32. Este era o compromisso de Paulo com o
Grego ou com o Gentio, com o Judeu ou com o Romano.
Existe uma preocupação legítima com a verdade
em Paulo, que caminha na direção do racionalismo cristão autentico. (Sem nos
esquecer que Paulo era de origem e formação Farisaica, e que portanto, ele dava
importância á tradição escribal de interpretação da Lei do AT.) Ou seja, o
racionalismo expresso pelo Logos de Deus em Cristo. Além disso,
referindo-me agora ao que Francis Schaeffer propôs em seu livro “Death in the
City”, a cidade precisa “morrer” com a verdade, no sentido de que, ao ouvir a
Palavra da verdade do Evangelho, a cidade “morre” para as inverdades de sua
cultura secular intelectualista, como o batismo cristão representa a morte para
o mundo. Pregar o Evangelho da verdade
significa romper com as barreiras do secularismo, assim como Paulo rompeu com
as propostas atenienses de uma cultura filosófica, ou com as descrenças pagãs
dos gentios, ou com as aspirações político/messiânicas dos Judeus, numa
demonstração de secularismo histórico, ainda evidentes no período logo após
Cristo. Aliás, por ter sido uma espécie
de “oficial do extinto Império Romano”, ( mas apenas em seu caracter
militarista, como vemos na defesa do império feita pelos fariseus em detrimento
do Cristianismo. Cf. Jo. 11:57 e Jo. 12:19, o que significa que Saulo dava
suporte à ideologia do Império ) Paulo sempre foi um destemido. Confrontou os
cristãos no caminho de Damasco, os judeus (pois os primeiros cristãos eram
judeus) confrontou Pedro, e as Igrejas por ele fundadas. Confrontou os Romanos
e também confrontou os gregos em arrazoada disputa no Areópago. Os gregos
sabiam a quem Paulo pregava, pois era esta sua a maior preocupação
especulativa, estar à procura de novas ideias e não fazer outra coisa além
disso no Areópago. Existe uma distinção muito grande entre pregar a Palavra da
Verdade num contexto urbano diversificado, - como para os que Não Conhecem a
Palavra e não questionam sua veracidade ou não, - e entre os que supostamente
conhecem a Palavra da Verdade, sabem que Jesus existe ou existiu, mas que
tentam suprimir o evangelismo com a imposição de uma outra argumentação,
trazendo ao diálogo os rigores do intelectualismo. (E toda esta oposição
intelectualista tem precedentes histórico/filosóficos) Existe uma maior receptividade ao Evangelho
quando a mente não se encontra cativa do intelectualismo. Por exemplo, a
questão do evangelismo pregado aos judeus atinados com a ideia da Lei do
Pentateuco, ou ao legalismo farisaico, criou um precedente ao evangelismo
paulino que obviamente o definiu como o Apóstolo dos Gentios, o que certamente
caracterizou significativamente a aproximação metodológica de Paulo. Não que
ele tenha abraçado o evangelismo aos gentios em detrimento do evangelismo aos
judeus. Na verdade Paulo tinha uma “versatilidade extraordinária e uma grande
capacidade em se adaptar à situação de sua audiência”, não somente por seu
profundo conhecimento teológico, mas ainda pela sua própria adaptabilidade
durante a pregação da verdade. (Cf. “THE
EARLY CHURCH”, The story of emergent Christianity from the apostolic age to the
dividing of the ways between the Greek East and the Latin West. By Henry Chadwick, page20, Penguin Books, Revised edition, 1993 UK.) Esta definição de método certamente nos vai
permitir definir também uma metodologia a ser observada durante nosso próprio evangelismo
urbano.
Mas a pergunta título em questão é saber por
que Paulo começa em sua metodologia a pregar a ira de Deus aos seus
recipientes? Como dissemos anteriormente, Paulo usa desse método de pregação ao
homem sem a Bíblia, notadamente aos gentios. Mas, a mensagem paulina se estende
indiretamente a toda a humanidade sem a Bíblia,
como bem se percebe nos primeiros versos de Romanos, bem como aos Judeus não
cristãos, indistintamente. Como já dissemos, as palavras iniciais de Paulo
estão em Romanos 1:18. Em outras palavras Paulo quis dizer que “nós estamos sob
a ira de Deus porque nós sustentamos a verdade na injustiça”. E tal verdade é
acima de tudo inegável e absoluta. Isto
quer dizer que Deus se fez revelar indistintamente a todas as nações, raças e
povos e portanto, não há como negar o escopo, a abrangência de Sua revelação.
Deus manisfesta sua ira a todos os que sabendo desta revelação, negam tal
verdade e se declaram injustos. Da mesma forma como Deus manifestou sua ira aos
que cometeram o pecado original, expulsando-os do paraíso. Há, portanto, posto em perspectiva a
iniquidade em confronto com a supressão da verdade revelada por Deus, como está
claro em Romanos 1:19. E Paulo demonstra tal iniquidade no livro de Romanos,
primeiro aos gentios ( Rom.1:18-32 ), depois aos Judeus ( Rom. 2:1-3:8) e
finalmente o pecado de todos, tanto gentis como Judeus (Rom. 3:9-20).
Este é em suma o esboço do evangelismo paulino,
demonstrar abertamente que todos pecaram e destituídos foram da graça de Deus.
E este é certamente o evangelismo sistemático paulino, bíblico, e portanto
inspirado pelo Espírito, tido como o modelo bíblico, que deu origem a todos os
demais modelos criados e inspirados a
partir de então. E ao demonstrar
abertamente tal iniquidade generalizada a todos, Paulo faz distinção entre
iniquidade meramente psicológica e a iniquidade moral, o que define o sentido
mais profundo de uma postura de arrependimento aceita por aqueles que
verdadeiramente assumiram a verdade do Evangelho de Jesus Cristo, daqueles que
a relegam simplesmente por mero desprezo. E este é um assunto para a
continuação de nosso estudo logo a seguir.
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